Lembro-me de uma história que ouvi há muito tempo atrás, uma mãe zelosa preocupada com a segurança de seu filho de 4 anos disse repetidas vezes: “Filho você pode brincar no quintal de nossa casa, mas nunca vá até a esquina, há perigos lá! ” Certo dia em que seu filho estava brincando no quintal como de costume, ela observou pela janela e não o avistou, a jovem mãe correu para procurar a criança, sua preocupação aumentava a cada passo e depois de alguns minutos de intensa busca ela encontrou o pequeno menino na esquina prestes a atravessar a rua para pegar sua bola de futebol que caíra do outro lado. A mãe correu desesperada em direção à criança e aos gritos impediu que o menino atravessasse a rua. Quando chegou no local, a jovem mãe estava descontrolada, ela começou a sacudir a criança dizendo: “Filho você me desobedeceu! Por que você está aqui? Eu lhe disse muitas vezes para que você nunca viesse até a esquina! ” Depois que a mãe terminou de falar e esbravejar, o menino, muito assustado com o comportamento da mãe, indagou: “Mãe, o que é ESQUINA? ”
Esta jovem mãe ignorou o nível de entendimento de seu filho, ela não se certificou de que ele compreendeu plenamente suas instruções, não levou em conta a maturidade e a idade da criança ao se comunicar com ela. Como o menino poderia ficar longe da ESQUINA, se ele não sabia o que era ou onde ficava?
Este tipo de problema é mais comum do que parece e pode ocorrer na comunicação entre pessoas de diferentes idades. A lição que aprendi com esta história é: “Sempre certifique-se que a outra pessoa entendeu e aceitou plenamente a sua mensagem.”
Segue algumas dicas para fazer isto:
Pergunte: Diga-me o que você entendeu sobre o que falei para você? Faça uma pergunta aberta, ou seja, seu filho ou filha deverá explicar com as próprias palavras o que compreendeu de sua mensagem. Isto não inclui uma simples resposta tal como: Sim entendi, ou OK mãe!
Peça para seu filho olhar para você enquanto transmite a mensagem. Isto contribui para uma melhor compreensão da mensagem.
Procure eliminar todos os “ruídos” possíveis na comunicação, ruído é tudo aquilo que pode atrapalhar no processo de comunicação, se a música estiver ligada peça para desligar, se seu filho estiver “plugado” peça para dar uma pausa e te ouvir com atenção, elimine qualquer distração possível, isto vai aumentar suas chances de ser compreendido (a).
Ser compreendido não quer dizer “ser atendido”, ou seja, seu filho pode te entender, mas não ter a mínima intenção de fazer ou agir como você espera. Sabendo disto além de certificar-se que seu filho entendeu seu “recado” esteja certo que ele ou ela fará ou agirá como você espera, para isto talvez você tenha que negociar e o mais difícil convencê-lo.
Antes de você começar:
– Certifique-se de que é um bom momento para conversar, neste caso, você pode se concentrar 100% na comunicação com seu filho. Não adianta conversar em um momento em que você ou seu filho esteja ocupado, ou ainda num momento de tensão ou estresse.
– Tenha um plano, (antes de iniciar uma conversa). Isto significa que ANTES de iniciar a conversa você vai pensar na melhor forma de abordar o assunto a fim de evitar conflitos e estresse.
– Organize seus pensamentos antes de se aproximar de seu filho. Sempre que possível faça uma lista lógica dos assuntos e possíveis argumentos que usará para falar com seus filhos. Tente antecipar algumas perguntas que seu filho ou filha fariam e possíveis respostas.
– Seja calmo e paciente. Antes de entrar na conversa tenha uma postura equilibrada e prepare-se para estar no controle das emoções apesar de contestações e protestos dos seus filhos.
– Limite as distrações. Evite locais muito barulhentos, tvs, games, ou outros dispositivos eletrônicos ligados no momento da conversa. Procure conversar em lugares com pouca possibilidade de distrações ou interrupções.
As principais habilidades de comunicação incluem:
Questionar – O tipo de informação que você recebe depende muito de como você faz a pergunta.
Mostre interesse e preocupação. Não culpe ou acuse.
Por exemplo: Em vez de “Como você se coloca nessas situações?”,
Diga: “Isso parece uma situação difícil. Você estava confuso?
Incentive a resolução de problemas.
Por exemplo:
Em vez de “O que você acha que acontece quando você não pensa?”,
Diga: “Então, qual seria a melhor maneira de lidar com isso?”
Vale lembrar que você deve: estar presente e sintonizado, mostrar entendimento, ouvir com respeito, demonstrar interesse, evitar emoções negativas e encorajar seus filhos.
Procure descobrir qual é o melhor canal de comunicação com o seu filho ou filha
Você provavelmente é a pessoa que mais conhece seu filho, afinal de contas, você está com ele desde que nasceu. Pense um pouco e diga qual é a forma mais eficaz de se comunicar com seu filho ou filha, isto inclui dispositivos eletrônicos já que as crianças e adolescentes de hoje são os chamados “nativos digitais”. Pode até parecer estranho, mas muitas vezes seus filhos podem dar mais atenção às suas mensagens de texto do que a sua voz. Quero dizer que se queremos ter uma participação mais efetiva na vida de nossos filhos temos que nos familiarizar mais com os canais, redes e mídias sociais nas quais eles estão conectados. Além de se aproximar de seus filhos esta experiência te proporcionará um meio de conhecer melhor, seus pensamentos, ideias, opiniões e interesses.
É claro que sua comunicação com seus filhos não deve se limitar a mensagens de texto ou posts em redes sociais! Na verdade, nada vai substituir “o olho no olho” um abraço fraterno seguido por um sincero “Eu te amo”!
Autor: Claudemir L. M. dos Santos, especialista em prevenção do uso de drogas.