O consumo de álcool e substâncias psicoativas entre mulheres tem crescido de forma alarmante, evidenciando desafios específicos no tratamento e na reinserção social. Embora a dependência química seja uma questão global, a maioria dos programas de reabilitação ainda é quase que exclusiva ao público masculino, dificultando o acesso das mulheres a cuidados especializados. Além disso, questões como parentalidade, violência e estigmas sociais tornam o processo de recuperação mais complexo.
Um cenário preocupante
De acordo com pesquisas de 2022, cerca de 292 milhões de pessoas no mundo utilizam substâncias psicoativas. No entanto, apenas 1 em cada 18 mulheres que buscam tratamento têm acesso a ele, em contraste com 1 em cada 7 homens. Para Nancy Dudley, consultora do Plano Colombo e especialista em saúde pública, os programas para mulheres devem considerar suas necessidades clínicas e emocionais únicas.
Fatores biológicos, como a dificuldade no metabolismo do álcool, e fatores sociais, como o consumo oculto motivado por frustrações emocionais, são aspectos que não podem ser ignorados.
O papel do tratamento acolhedor
A Rede Global para Tratamento de Mulheres, criada para apoiar instituições que atendem mulheres dependentes, reforça a importância de considerar o impacto de traumas no processo de recuperação. Segundo Jimena Kalawski, chefe da Unidade de Redução da Demanda da CICAD, muitas mulheres em tratamento já enfrentam violência, gravidez ou estigmatização.
Jessica Bolaños, também consultora da CICAD, enfatiza que o tratamento deve ser baseado na compreensão dos traumas vividos por essas mulheres:
“Sem a compreensão dos traumas, sejam eles físicos, emocionais ou sexuais, não é possível criar um ambiente seguro e acolhedor para a recuperação”, afirma.
O alcoolismo e a vulnerabilidade feminina no Brasil
No Brasil, a violência sexual e física é uma realidade para muitas mulheres alcoolistas. De acordo com Grazi Santoro, presidente da Associação de Alcoolismo Feminino, 80% das atendidas pela instituição relatam histórias de abuso sexual, com o álcool frequentemente presente como facilitador de situações de vulnerabilidade.
A reinserção social como prioridade
Patrícia Magalhães, fundadora de um instituto voltado para o apoio a mulheres em recuperação, defende que políticas públicas eficazes são cruciais para promover a reinserção social sem estigmas.
“É preciso garantir autonomia e dignidade às mulheres que superaram a dependência química, para que possam reconstruir suas vidas em um ambiente acolhedor e livre de preconceitos.”
Destaque no 9º Congresso Internacional Freemind 2024
O tema “Tratamento para Mulheres Dependentes do Álcool e Demais Drogas” foi um dos destaques do 9º Congresso Internacional Freemind 2024, reunindo especialistas para discutir os desafios e soluções para o tratamento feminino.
A palestra está disponível na íntegra no canal do YouTube do Freemind, em três idiomas:
▶️ Português: Assista aqui
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Um olhar para o futuro
Promover tratamentos inclusivos, seguros e baseados em evidências é essencial para atender às necessidades de mulheres dependentes de álcool e drogas. Mais do que nunca, é necessário que a sociedade, os profissionais de saúde e os gestores públicos se unam para garantir que essas mulheres encontrem apoio, respeito e oportunidades de recomeço.