Recentemente, o desenvolvimento de modelos de tratamento para uso de substâncias que levam em conta o estágio do desenvolvimento e as necessidades dos jovens tem recebido cada vez mais atenção, substituindo programas generalizados para adultos (possivelmente não adequados para a idade). Foram disponibilizadas terapias manualizadas, e há crescente evidência da eficácia de vários modelos de tratamento, incluindo terapias estruturadas, tendo a família como base (por exemplo, a Terapia Familiar Multidimensional) e intervenções de terapia motivacional e de comportamento cognitivo. Vários estudos também exploraram intervenções breves (de 2 ou 3 sessões), oportunas e motivacionais e demonstraram uma redução no uso da cannabis.
A abordagem da terapia motivacional usa um estilo conversacional, garantindo o respeito e a empatia, e mostra, da parte dos alunos, compreensão de que o uso da cannabis não é falta de sensatez e que eles reconhecem os “benefícios” e os aspectos “menos favoráveis” desse uso. A abordagem também indica que o professor da escola, o profissional de saúde na comunidade, ou o conselheiro de saúde primária, entendem que a mudança é difícil e, enquanto pode trazer possíveis benefícios (nunca há garantia), existem “custos” associados ao processo de mudança, como perda de colegas e ter que lidar com problemas que o uso da cannabis pode ter ocultado. Na verdade, essa abordagem leva em consideração cinco perguntas-chave.
Terapia motivacional para jovens usuários da cannabis: “5 perguntas-chave“
As 5 perguntas-chave geralmente não levam mais de 5 minutos para serem respondidas.
- O que você gosta/aprecia no uso da maconha? [dar várias razões]
- E o que você menos gosta no uso da maconha? [tentar minimizar um pouco e dar informações adequadas, se necessário]
- Então, digamos que você goste, mas não esteja muito satisfeito. Já pensou se seria bom fazer uma mudança no uso da maconha?
- Muito bem, mas o que não seria tão bom se fosse feita uma mudança no uso da maconha?I) Se o jovem não estiver interessado em mudar nesse momento: “Então você não parece muito disposto a fazer uma mudança no uso da maconha agora. Tenho algumas informações que podem ser interessantes ou úteis para você. E estou tentando imaginar o que eu poderia fazer para que repensasse sua decisão algum dia?”
Incluir: Antes de terminarmos, eu gostaria de lhe dar algumas informações que podem ser úteis e alguns contatos onde pode encontrar ajuda, se você reconsiderar sua decisão. E lembre-se que será um prazer conversar com você novamente sobre isso, se quiser.
Ou
II) se um jovem estiver interessado em mudar: “Então, conversamos muito sobre o que você gosta e não gosta muito quando consome e o que você pode ganhar ou perder se mudar isso. Antes de terminarmos, eu gostaria de lhe dar umas informações que poderão ser úteis e alguns contatos onde você poderá obter ajuda para fazer as mudanças que está pensando“.
Se for parte do trabalho do profissional fornecer breves intervenções para os jovens que desejam abordar seus problemas relacionados ao uso da cannabis, o profissional poderá continuar a conversa da seguinte forma: “Na verdade, não conversamos muito sobre quanta maconha você consome, então, você poderia me dizer quantos dias por semana você consome…”
A Figura abaixo é um exemplo do uso de um estilo conversacional de entrevista que engloba as cinco perguntas-chave:
Os temas em evidência neste cenário incluem:
- O professor/profissional de saúde/conselheiro está tentando obter motivação para refletir sobre a situação de Tomás e acalmá-lo para que ele possa tomar uma “decisão”.
- O professor /profissional de saúde/conselheiro tenta exemplificar várias “coisas boas” sobre o uso e não exagerar nas “coisas não tão boas”, para que Tomás saiba que ela/ele entende que Tomás consome cannabis por motivos específicos e não está simplesmente adotando um comportamento delinquente e que ele está consciente do impacto do uso da cannabis.
- O professor /profissional de saúde/conselheiro tenta arrancar de Tomás exemplos de “coisas boas ou mais ou menos boas” sobre a redução ou suspensão do uso.
- O professor /profissional de saúde/conselheiro resume e tenta fazer com que Tomás reflita sobre isso e tome uma decisão sobre tentar mudar ou não.
Se Tomás estiver preocupado ou pronto para pensar em uma mudança, então, será oferecida uma intervenção. Os principais componentes serão:
- Fornecer um feedback associando o uso da cannabis a problemas atuais ou possíveis problemas de saúde.
- Elaboração do uso da cannabis: padrões, quantidade de uso, sozinho ou com outros, horas do dia, locais de uso, mistura dos que usam, qualquer coerção e qualquer risco associados ao uso da cannabis, como local, mistura de cousuários, compartilhamento da forma de uso: cachimbo ou cigarro.
- Discussão sobre a conversa que induz à mudança, por exemplo, discutir o nível de confiança do aluno para que ele possa mudar o consumo da substância, se quiser. Se não houver confiança, estimular o aluno a falar sobre outras mudanças que fez ou as qualidades pessoais que o ajudariam a fazer mudanças no consumo da cannabis.
- Estabelecer opções específicas para ajudar na mudança (um Menu de opções), por exemplo, identificar situações de alto risco, estímulos e estratégias para evitá-las. Estímulos para o uso incluem: humor/sentimentos, pessoas (família, amigos, colegas, outros); lugares; odores, por exemplo, uma sala e roupas não limpas; utensílios e lixo largados; estímulos visuais, como pôsteres ligados à cannabis, seu uso, usuários famosos da cannabis ou vários.
- Identificar outras atividades prazerosas em vez de consumir cannabis.
- Ajudar o estudante a decidir quais são suas metas.
- Estimular o estudante a identificar as pessoas que podem fornecer apoio e ajuda para as mudanças que ele quer fazer.
- Fornecer recursos de autoajuda, informações escritas para jovens e links da web para reforçar o que foi discutido.
- Convidar o estudante para voltar e discutir seu progresso e oferecer mais ajuda ou informações, se necessário.
- Considerar uma abordagem adequada de trabalho em família.
- Essas abordagens também se enquadram na abordagem FRAMES recomendada pela OMS. FRAMES significa: fornecer Feedback, promover Responsabilidade, oferecer Ajuda (conselho) e um Menu de opções, se necessário e adequado, usar Empatia e incentivar a autoeficácia. Essa abordagem poderá guiar o trabalho com os alunos que possam ter dificuldades relacionadas ao uso da cannabis, e podem incluir abordagens individuais e familiares mencionadas anteriormente.Além disso, é importante discutir os sintomas da abstenção do uso da cannabis. Esse é um aspecto importante do tratamento, já que os sintomas da abstenção podem levar à reincidência no uso da substância. Os sintomas normalmente aparecem após um a três dias de abstinência, com o pico entre os dias dois e seis, dura normalmente de quatro a 14 dias com dificuldades para dormir, e leva várias semanas para diminuir. Os sintomas mais comuns incluem pesadelos e sonhos estranhos, dificuldade para conseguir dormir e continuar dormindo, sudorese noturna, irritabilidade e apetite reduzido.
- Da mesma forma, o desejo pela cannabis deve ser abordado e pode ocorrer dentro do contexto da consulta atual, se perguntado sobre o efeito que a conversa com o professor/profissional de saúde/conselheiro sobre a cannabis está tendo sobre o aluno. Estratégias para lidar com esse desejo, como atrasar, descatastrofizar, distrair, desestressar e beber água podem ser discutidas.
Fonte: http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=414