Tipos de Prevenção

Nem todas as pessoas ou populações têm o mesmo risco de desenvolver problemas relacionados ao uso de substâncias. Intervenções preventivas são mais eficazes quando devidamente combinadas com o nível de risco da população-alvo em questão.

Segundo o sistema de classificação do Institute of Medicine (1), os programas de prevenção são organizados de acordo com a possibilidade de cada pessoa estar mais ou menos inserida em grupos de alto risco para o uso de substâncias.

As estratégias de prevenção universal dirigem-se à população em geral (comunidade local, nacional, escolar, etc.), fornecendo mensagens e programas que procuram prevenir ou retardar o uso nocivo de álcool, tabaco e outras drogas.

As estratégias de prevenção seletiva dirigem-se a subgrupos da população em geral que fazem parte da população de risco para o uso de drogas – por exemplo, filhos de dependentes químicos, escolas com altos índices de evasão, adolescentes em conflito com a lei.

Estratégias de prevenção indicadas são criadas para prevenir o início do uso nocivo de substâncias em indivíduos que não são dependentes, mas mostram indicativos iniciais perigosos, como, por exemplo, insucesso escolar, comportamento delinquente e consumo de álcool, tabaco ou outras drogas.

Esses três tipos de prevenção procuram reduzir o espaço de tempo do desenvolvimento dos sinais iniciais do uso nocivo de substâncias, bem como interromper a gravidade e a intensidade dessa progressão. O objetivo geral é reduzir o número de novos casos de dependência, ao intervir diretamente sobre os indivíduos de alto risco, antes que a gravidade e a intensidade de seus problemas preencham critérios para dependência.

A seguir, são apresentadas definições de cada tipo de estratégia preventiva.

Estratégias de prevenção universal: adotam uma ampla abordagem, visando ao público em geral ou toda uma população que ainda não foi identificada com base no risco individual. Intervenções de prevenção universal podem atingir escolas, comunidades inteiras ou locais de trabalho. Como exemplo, podem-se citar as políticas comunitárias que promovem o acesso à educação infantil, a implementação e a execução de políticas antibullying nas escolas, a educação para os médicos sobre a utilização abusiva de medicamentos.

Uma estratégia de prevenção universal é a que se dirige a todos os membros de determinada população. A meta da prevenção universal é impedir o início do uso nocivo de substâncias, oferecendo a todos os indivíduos as informações e habilidades necessárias para a prevenção. Parte do pressuposto de que todos os membros da população dividem o mesmo risco geral de uso nocivo de substâncias, ainda que ele varie enormemente entre os indivíduos.

Campanhas de prevenção universal ao uso de álcool, tabaco e outras drogas incluem educação escolar sobre o uso nocivo dessas substâncias, campanhas na mídia e de conscientização pública e mudanças no policiamento das escolas para garantir áreas livres de drogas. Entretanto, os programas universais com melhores resultados são os que visam à diminuição do acesso às drogas mediante, por exemplo, políticas públicas de taxação, restrição do uso pela idade e plano de licença para abertura e manutenção de locais que vendem álcool.

Estratégias de prevenção seletiva: os programas de prevenção seletivos dirigem-se a subgrupos específicos que estão expostos a maiores riscos de uso de substâncias do que a população em geral. Os grupos de alto risco são identificados pela presença de fatores de risco ambientais, biológicos, sociais, psicológicos que tornam os indivíduos daquele grupo mais suscetíveis ao uso nocivo de substâncias psicoativas. Os subgrupos-alvo devem ser definidos por idade, gênero, etnia, história familiar, lugar de residência (onde o uso de substâncias é alto ou a renda per capita é baixa), vitimização física e abuso sexual. A prevenção seletiva dirige-se ao subgrupo inteiro, independentemente do grau de risco individual de cada um. O risco individual não é avaliado nem definido, mas presumido pelo risco do subgrupo em que o indivíduo está inserido.

Essas intervenções focam no biológico, no psicológico, no social ou em fatores de risco que são mais proeminentes entre os grupos de alto risco do que entre a população em geral. Como exemplo, pode-se citar a educação de famílias de imigrantes com crianças que vivem na pobreza, bem como grupos de apoio para adultos com história de doença mental e/ou abuso de substâncias na família.

Estratégias de prevenção indicadas: abordam indivíduos de alto risco que são identificados como tendo sinais ou sintomas mínimos, que podem ser um prenúncio de um transtorno mental, emocional ou comportamental, antes do diagnóstico de um transtorno. Essas intervenções focam no risco imediato e em fatores de proteção presentes nos ambientes em que esses indivíduos estão inseridos. Como exemplo, pode-se citar o fornecimento de informações e o encaminhamento de jovens adultos que violam as normas do uso de álcool e drogas na comunidade, bem como triagem, consulta e referência para as famílias dos idosos assistidos em pronto-atendimento hospitalar com possíveis traumas relacionados ao uso de bebidas alcoólicas.

Os programas de prevenção indicados procuram identificar pessoas que estejam apresentando sinais prematuros do uso nocivo de substâncias e outros comportamentos problemáticos que sugerem uso ou risco de uso de substâncias, tentando atingi-las com programas especiais, individualizados e voltados à necessidade específica daquele indivíduo-alvo do programa. Nesse tipo de programa, será dada menor ênfase aos fatores ambientais, como os valores comunitários. O objetivo dos programas indicados não é apenas a redução da experimentação da substância, mas também a redução da duração dos sinais associados ao seu uso, o protelamento do uso nocivo de substâncias e/ou a redução no grau de gravidade da dependência que pode se desenvolver. Os indivíduos que participam desses programas de prevenção podem ser indicados pelos pais, enfermeiros da escola, professores, coordenadores das escolas, amigos, ambulatórios de saúde, serviços de pronto-atendimento, etc., sendo, portanto, recrutados para esses programas.

Alguns programas de prevenção indicados ao uso nocivo de substâncias incluem iniciativas para estudantes do ensino médio ou universitários que experimentam uma grande variedade de problemas de comportamento, como alto índice de repetência escolar, delinquência, comportamentos antissociais ou problemas psicológicos, como depressão e comportamento suicida, baixa autoestima, transtornos da conduta, problemas de relacionamento, distanciamento familiar, da escola ou de grupos de amigos.

A classificação em universal, seletiva e indicada depende da atuação da intervenção preventiva, bem como dos objetivos que se almeja alcançar. Em geral, recomenda-se ter como referência o sistema social mais amplo (com suas leis, atitudes, políticas). Ao desenhar ações que atinjam todos igualmente, falamos em prevenção universal (p. ex., uma campanha na televisão ou uma mudança na lei). Se as ações objetivam prevenir o uso de bebida pelos motoristas, estamos falando em prevenção seletiva. Já ações voltadas para adolescentes em liberdade assistida seriam consideradas indicadas.

Fontes:

DIEHL, A.; FIGLIE, N.B. Prevenção ao uso de Álcool e Drogas. O que cada um de nós pode e deve fazer? Editora Artmed, 1ª ed., 2014, pag. 27-30

(1) Mrazek PJ, Haggerty RJ, editors. Reducing risks for mental disorders: frontiers for preventive intervention research. Washington: National Academies; 1994.