Palestra Dr. Augusto Cury

Dr. Augusto Cury, em sua palestra no 7º Congresso Freemind, fala sobre como manter o autocontrole numa sociedade estressada e intoxicada digitalmente.

 

Na história do Freemind, duas pessoas foram, são e serão sempre muito importantes: Padre Haroldo e Dr. Augusto Cury.

A percepção tradicional é de que ciência e religião são duas coisas completamente diferentes; de que a ciência tenta entender como funciona o mundo e a religião fala sobre o espírito do homem e questões existenciais, morais e de valor. Mas não é bem assim: enxergamos uma parte muito pequenininha do mundo e o que a ciência faz é tentar ampliar essa nossa visão do que é o mundo.

Padre Haroldo Rahm passou sua vida trabalhando para a recuperação de dependentes químicos e para a inclusão das pessoas que mais sofriam. Resgatou milhares de vidas utilizando, além dos métodos terapêuticos tradicionais, sua espiritualidade pluralista para promover um despertar espiritual que levasse o dependente à vontade de se recuperar.

Foi um homem respeitado por psiquiatras, médicos, psicólogos, dependentes, familiares, voluntários, empresários, religiosos e representantes do Governo aqui no Brasil e por onde passou, mostrando que religião, ciência e política podem, sim, fazer um belo trabalho juntos e salvar vidas!

O Freemind só existe porque Padre Haroldo acreditou, inspirou e ajudou.

E desde o seu início, antes mesmo do primeiro Congresso em 2013, Dr. Augusto Cury também esteve presente. Foi e tem sido, ao longo dos anos, um grande apoiador e motivador.

Participou de reuniões de organização, palestrou em todos os Congressos, doou seu tempo e seu conhecimento em ações paralelas de prevenção organizadas pelo Freemind, esteve presente em retiros com moradores de rua de São Paulo.

Escreveu e doou milhares de livros “Mente Livre – Emoção Saudável”, resultado da tese de doutorado internacional em Psicologia Multifocal pela Florida Christian University no ano de 2013, mesmo ano do 1º Congresso Internacional Freemind.

Sua história com o Freemind tem ajudado a salvar muitas vidas. Por meio de suas poderosas ferramentas, milhões de pessoas podem combater, diária e diretamente, o estresse, a ansiedade, a baixa autoestima, os problemas de relacionamentos, os problemas de uso problemático de substâncias, os medos e angústias.

No Congresso de 2022, sua presença era fundamental e foi especial: desta vez, de forma online, Dr. Augusto Cury falou para os congressistas presentes no Expo Dom Pedro, em Campinas, para as mais de 4.500 pessoas que nos acompanhavam ao vivo pelo YouTube do Freemind e também pelo seu Instagram, para dezenas de milhares de seus seguidores.

Começou fazendo uma homenagem ao nosso saudoso Padre Haroldo e lembrando que a morte é apenas uma vírgula, para que o texto continue a ser escrito na eternidade.

Falou também sobre uma sociedade extremamente adoecida. Como ele disse “estamos diante da geração mais triste, depressiva e ansiosa que já pisou nesta terra, apesar de todos os avanços da medicina moderna”.

Acompanhe um pouco do que o Dr. Augusto Cury falou. Se quiser assistir a palestra na íntegra, acesse o YouTube do Freemind. A palestra está disponível em português e em inglês.

Apesar dos avanços da medicina, nós não construímos ferramentas de gestão de emoção para prevenção de transtornos emocionais, segundo Dr. Augusto Cury.

Para se ter uma ideia, uma em cada duas pessoas tem ou vai desenvolver um transtorno psiquiátrico ao longo da vida. Nós estamos falando em mais de 3 bilhões e meio de seres humanos e, provavelmente, nem 1% dessas pessoas deve se tratar, seja porque o tratamento é caro, seja por que faltam profissionais e/ou profissionais com experiência – e não apenas no Brasil, mas no mundo todo – sejam porque as pessoas negam suas doenças.

Elas são rápidas e ávidas para apontar o dedo para os outros, mas têm dificuldade de reconhecer seus conflitos, seus fantasmas mentais – como a autopunição, o sofrimento por antecipação ou ruminação do lixo mental, perdas, mágoas e frustrações… enfim, o índice de adoecimento psíquico é muito alto.

Seria necessário, então, trabalhar ferramentas preventivas para termos um autocontrole pelo menos mínimo e aceitável nessa sociedade intoxicada digitalmente.

E quais são essas ferramentas? Dr. Augusto Cury teve o privilégio de desenvolver o primeiro programa da atualidade de Gestão da Emoção. E Gestão da Emoção é diferente de Inteligência Emocional.

Dr. Augusto Cury durante palestra ao público do 7º Congresso Internacional Freemind

Inteligência Emocional fala sobre habilidades emocionais como flexibilidade, honestidade e transparência, enquanto Gestão da Emoção envolve os fenômenos que estão nos bastidores da mente humana – por exemplo, as janelas da memória.

São três tipos de janelas, três tipos de arquivos:

  • Nas janelas neutras, que correspondem a mais de 90% dos arquivos no córtex cerebral, ficam milhões de dados – desde fórmulas matemáticas, informações sobre física, química, biologia ou das atividades de trabalho (laborais) – ou seja, são janelas que não têm conteúdo emocional ou tem baixíssimo conteúdo emocional.
  • Um outro grupo de janelas têm alto volume emocional – algumas são traumáticas ou Killers (que quer dizer em inglês: assassino). Dr. Augusto Cury usa esse termo porque não assassina na vida, mas assassina a tranquilidade e o prazer de viver, o encanto pela vida, a capacidade de você namorar a existência, viver mais leve, tranquilo, sereno.
  • E as janelas saudáveis, que contém as habilidades, como: pensar antes de reagir, trabalhar perdas e frustrações, gerenciar o estresse, se reinventar e assim por diante.

O grande problema no psiquismo humano é essa guerra de janelas: se as janelas killer ou traumáticas forem preponderantes (tanto em quantidade quanto em qualidade e intensidade) em relação às janelas saudáveis ou lights, então a pessoa vai adoecer.

Por exemplo, imagine uma pessoa que tem glossofobia – o medo de falar em público – quando ela está diante de uma plateia, mesmo que saiba toda matéria, toda a conferência, no exato momento em que alguém boceja na plateia, detona-se o gatilho (que é um fenômeno inconsciente),  abre uma janela em milésimos de segundo – no caso, uma janela traumática ou killer –  que tem o medo de falar, o medo de passar um vexame, a necessidade – doentia e ansiosa – de corresponder às expectativas de todo mundo – isso é impossível!

Se você quer viver em sociedade, viver uma vida saudável e autocontrolada, você tem que saber que não vai conseguir satisfazer a tudo e a todos… algumas pessoas não vão gostar de você, outras vão te criticar e até terão aqueles que são haters, mas a tua paz deve valer ouro, o resto é lixo.

Se você não tiver a consciência, se o teu “eu” não gerir a sua mente a tal ponto que você introjete todos os dias que a tua paz vale ouro e o resto é insignificante ou até lixo mental, então vai detonar o gatilho, abrir uma janela killer e entra aí um terceiro fenômeno: a âncora da memória que vem, fecha o circuito e assim, milhares de janelas, com dezenas de milhares de dados que você conhece muito bem, não serão acessados.

Neste momento, você deixa de ser um homo sapiens – um ser humano pensante, que tem consciência crítica – e passa a ser um homo bios – instintivo – ou seja, naquele momento, a plateia se torna sua predadora e você se torna uma frágil presa.

Por isso, quando a âncora entra e fecha o circuito da memória devido ao volume de tensão de uma janela killer, nós não conseguimos pensar antes de reagir, não conseguimos organizar as ideias e temos um mecanismo instintivo de fugir da situação de altíssimo risco.

É por isso que os campos da memória são bloqueados e a nuvem de moléculas que percorre a corrente sanguínea, aumenta a frequência cardíaca, aumenta a frequência respiratória e as pessoas acabam falhando naquilo que sabem, falhando no conhecimento que têm.

Então, o primeiro fenômeno é o gatilho, o segundo é a janela – no caso, abrir uma janela errada, as janelas killers ou traumáticas -, o terceiro é a âncora que fixa ou fecha o circuito da memória, gerando hiperfoco e o quarto fenômeno é o fenômeno do autofluxo.

Esse autofluxo começa a ler e reler aquela janela, produzindo pensamentos perturbadores que são registrados de volta e produz um outro fenômeno – inconsciente – além desses quatro, chamado fenômeno RAM – registro automático da memória: quanto mais você tenta olhar para a plateia ou expressar adequadamente as suas palavras e organizar e concatenar suas ideias, mais você falha.

Neste momento, você deve se recolher por alguns segundos – mesmo que a plateia fique pasmada pelos seus segundos de silêncio – e você deve retomar o autocontrole, por exemplo, usando a técnica DCD – duvidar, criticar e determinar: eu duvido que eu não conseguirei expressar as minhas ideias adequadamente, eu critico a minha ansiedade e meu medo de falar em público e eu determino ser autor da minha história, gestor da minha mente.

Dá para perceber que a nossa espécie, pelo fato de não ter estudado profundamente o processo de construção de pensamentos e o programa de gestão da emoção, acertou em falar sobre a inteligência emocional, mas errou em não entender os mecanismos que estão na base do inconsciente e que podem levar o ser humano a ser encarcerado no único lugar em que ele deveria ser livre: dentro de si mesmo.

É por isso que nos primeiros 30 segundos de tensão os políticos erram dramaticamente quando são criticados, os pais erram também de uma maneira asfixiante e cruel quando são, de alguma forma, decepcionados pelos seus filhos, bem como professores, executivos e assim por diante.

Então, não há heróis! Nós precisamos aprender a ter autocontrole da nossa psique, mas o autocontrole não passa pelo mecanismo ‘ação e reação’.

O mecanismo ‘ação e reação’ pode ser ótimo para física, mas péssimo para as relações humanas: a pessoa que ‘não leva desaforo para casa’, por exemplo, não leva desaforo para a casa física, mas leva desaforo para a casa mental e asfixia quem está ao seu redor.

É preciso entender que, muitas vezes, por detrás de quem te fere, há uma pessoa ferida e, mesmo que ela te critique injustamente, tua paz vale ouro. Você não pode negociar o que é inegociável!

Freud, segundo Dr. Augusto Cury, estava certo em apontar quando disse que nós sofremos traumas,  mas estava errado ou não estava adequadamente correto em entender que não é a experiência original que é o grande problema, não é uma ofensa, um bullying ou uma pessoa que foi presa num quarto escuro… não é a ofensa original a pena – é a ruminação da ofensa original: detona o gatilho, abre aquela janela killer, nós ancoramos o “eu” naquela região e o autofluxo parte dos fenômenos ler e reler – quanto mais ler e reler, mais é registrado, alargando as fronteiras e uma experiência original que deveria ser trabalhada – a perda, a frustração e a decepção –  é trabalhada e superdimensionada, gerando cárcere mental.

Por isso que se o “eu” não retoma o controle, nós potencializamos por dez os desafetos, as pessoas que nos frustram, “os inimigos” e é por isso também que o sentimento de vingança, de raiva, de ódio e de exclusão faz mal em destaque ao hospedeiro.

Quando você compreende que a tua paz vale ouro, que é inegociável e quando você entende que só uma pessoa infeliz e mal resolvida é capaz de machucar a você e aos outros, você dá desconto… por isso que as pessoas mais felizes e mais saudáveis não são aquelas que são vingativas, autoritárias, não são aquelas que reagem pelo fenômeno bateu-levou… são aquelas que são mais tolerantes, mais flexíveis, que entendem que uma pessoa estressada, angustiada, irritadiça, tensa, depressiva ou mal resolvida é capaz de, num foco de tensão, dizer palavras que machucam, magoam, te asfixiam, roubam o oxigênio da sua liberdade.

Ser saudável é aumentar o limiar para suportar frustrações. Você quer ser saudável? Aumente o limiar para suportar frustrações, ou seja, diminua a contrapartida do retorno, porque os íntimos são aqueles que mais são capazes de te ferir.

Em resumo, devemos ter autocontrole em tempos de estresse; a sociedade está intoxicada digitalmente e as pessoas não tem nem tempo para se conectar consigo mesmas. Ficam o dia todo no celular. Inclusive tem asco ao tédio, aversão à solidão, sem saber que o tédio e a solidão brandos são importantes para liberar a criatividade e para fazer com que você se torne autor da sua própria história.

O tédio e a solidão são momentos solenes para você mergulhar dentro de si. Claro que o tédio atroz e a solidão tóxica são péssimos, mas é importante saber: se a sociedade te abandona, a solidão é suportável; mas se você mesmo se abandona, ela é intolerável!

Como palavras finais, Dr. Augusto Cury deixou: “Eu espero que você aprenda ter autocontrole nessa sociedade altamente estressante e se você treinar o seu “eu” para ter autocontrole, não tenha medo de falhar. Se você falhar, relaxe. Não tenha medo de chorar e se você chorar, use as lágrimas como vírgulas, para que você escreva os capítulos mais importantes da sua história nos momentos mais difíceis da sua vida!”.

 

Dr. Augusto Cury é médico psiquiatra, pesquisador e escritor. É autor da Teoria da Inteligência Multifocal, que analisa o processo de construção dos pensamentos, o funcionamento da mente humana e as estratégias para a conquista de uma mente livre e saudável. Seus livros de psicologia aplicada e educação socioemocional são publicados em mais de 70 países, em diversos idiomas, com mais de 30 milhões de exemplares vendidos somente no Brasil. O best-seller “O Vendedor de Sonhos” se tornou um filme e foi lançado nos cinemas em 2016. O Dr. Augusto Cury alcançou o reconhecimento nacional e internacional, tornando-se o autor mais lido da última década, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo e as revistas Veja e IstoÉ.