ONU critica interferência ‘perversa’ da indústria do cigarro em políticas de saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) vem, há anos, alertando a população dos males do cigarro e trabalhando para diminuir cada vez mais os números de fumantes no mundo todo. Ao todo, são 7 milhões de mortes por tabagismo em todo o globo.

Porém, de acordo com o novo relatório da Convenção-Quadro da OMS sobre Controle de Tabaco, a indústria do cigarro vem interferindo nesses esforços feitos para combater o uso da substância. As empresas estão usando ferramentas e a linguagem dos ativistas de controle do tabaco para alavancar suas agendas perigosas.

De acordo com a brasileira Vera Luiza da Costa Silva, que chefia o Secretariado da Convenção, essa indústria tem interesse apenas no lucro e utilizam de disfarces enganosos para agir de forma perversa.

Em setembro de 2017, a Convenção-Quadro denunciou a criação da Fundação para um Mundo Livre do Fumo, financiada única e exclusivamente por uma das maiores companhias do setor tabagista. A instituição recebeu recursos de quase 1 bilhão de dólares para realizar e financiar estudos sobre agricultura, trabalho e produtos de nicotina. Vera acredita que esse é um exemplo perfeito de uma filantropia aparentemente inofensiva, que reivindica completa independência, (mas) promovendo pesquisa financiada pela indústria do tabaco e tentando influenciar o debate público e o conhecimento comum sobre os efeitos do tabaco na saúde e no meio ambiente.

Além disso, a indústria está confundindo os consumidores criando novos produtos que são vendidos com a premissa de serem “livres de fumaça” ou “heat-no-burn”, mas que são cigarros que alegam queimar o tabaco a uma temperatura menor do que cigarros comuns. Sem mencionar os cigarros eletrônicos, que exalam vapor d’água e aparentam serem inofensivos (mas não são).  Essas empresas apresentam esses produtos novos (que ainda assim são prejudiciais) e encontram meios de apoiar estudos que os apresentam como seguros para a saúde, mesmo que não exista evidência científica para embasar isso. De acordo com a pesquisa da Convenção-Quadro, táticas similares são empregadas em outras frentes, como o debate sobre a degradação ambiental associada ao cigarro ou sobre o uso de trabalho infantil na indústria. O resultado é a fragilização dos diálogos e da implementação de medidas de controle do fumo.

O artigo 5.3 da Convenção-Quadro exige que todas as partes do acordo garantam que suas políticas públicas de saúde sejam protegidas “de interesses comerciais e outros interesses inerentes à indústria do tabaco”.

Na Polônia, o Ministério da Saúde alertou todas as escolas médicas do país e solicitou que nenhuma instituição peça ou aceite financiamento da Fundação para um Mundo Livre do Fumo. O comunicado da pasta informava que não seriam reconhecidas quaisquer pesquisas realizadas em cooperação ou com o patrocínio da fundação. No Vietnã, uma medida semelhante foi adotada pelo Ministério da Saúde nacional, que comunicou todos os ministros de governo sobre a situação. Nos Estados Unidos, 17 das maiores escolas de saúde pública anunciaram que não aceitarão recursos da fundação nem buscarão parcerias com a entidade. “Há decisões encorajadoras sendo tomadas em todo o mundo, mas lamentavelmente isso está caminhando a um ritmo alarmantemente devagar e não podemos nos dar o luxo de permanecer (apenas) com nossas pequenas vitórias”, enfatizou Vera. “A indústria está sempre nos alcançando e encontrando novos meios de combater nossos esforços.”

Fonte: https://nacoesunidas.org/onu-critica-interferencia-perversa-da-industria-do-cigarro-em-politicas-de-saude/