O perigo do vício digital

A dependência digital e o aumento da compulsão por jogos de azar no Brasil.

A dependência digital e a compulsão por jogos de azar foram temas centrais no 9º Congresso Internacional Freemind 2024, que reuniu especialistas renomados para discutir essas questões.

Os avanços tecnológicos proporcionaram novas formas de entretenimento e facilidades cotidianas. No entanto, também expuseram um lado sombrio: o aumento da dependência digital e dos jogos de azar. No Brasil, país com alta conectividade, esses fenômenos afetam pessoas de todas as idades.

O lado obscuro das apostas online

Com a expansão das plataformas de apostas digitais, o Brasil destaca-se pela significativa participação nesse segmento. Embora a legalização dos jogos de azar ainda seja alvo de debate, o acesso facilitado às apostas online já expõe muitos brasileiros ao risco da ludomania — um transtorno mental caracterizado pela compulsão incontrolável de jogar, mesmo diante de prejuízos financeiros e pessoais.

O Dr. Hermano Tavares, coordenador do Programa Ambulatorial do Jogo Patológico (PRO-AMJO), alerta que diversos fatores contribuem para o desenvolvimento desse comportamento, incluindo traumas na infância, experiências iniciais positivas no jogo e antecedentes familiares de dependência. Estresse elevado e doenças neurológicas, como o Parkinson, também podem aumentar a predisposição a comportamentos compulsivos.

O tratamento da ludomania requer uma abordagem multidisciplinar que inclui psicoterapia e, em alguns casos, o uso de medicamentos específicos para reduzir o desejo de jogar, além de outros indicados para o controle de compulsões. Estratégias como o manejo de gatilhos emocionais e a prevenção de recaídas são cruciais para ajudar o paciente a recuperar o controle de sua vida.

A conexão com a dependência digital

Paralelamente, o uso excessivo de dispositivos digitais preocupa especialistas, especialmente entre os mais jovens. Estudos indicam que o tempo prolongado frente às telas está associado ao aumento de problemas como miopia, sedentarismo, obesidade infantil e dificuldades no desenvolvimento social e emocional.

A Geração Z, nascida entre 2000 e 2010, cresceu imersa na internet e, por isso, é especialmente vulnerável. Apesar de altamente conectada, essa geração enfrenta dificuldades para equilibrar o uso da tecnologia com o bem-estar físico e mental. Em muitos lares, a ausência de regras claras sobre o uso de telas e a falta de comunicação familiar contribuem para o surgimento de comportamentos compulsivos.

Especialistas recomendam a implementação de limites desde cedo. Para crianças menores de 2 anos, o uso de telas não é indicado. Entre 2 e 5 anos, o tempo de exposição deve ser limitado a uma hora diária, sempre com supervisão dos pais. Para adolescentes, o uso de dispositivos pode ser mais flexível, mas ainda assim restrito a 2 ou 3 horas por dia, com regras claras.

Os impactos da dependência digital e da compulsão por jogos de azar vão além do indivíduo, afetando gravemente famílias e a sociedade como um todo. A criação de políticas públicas, a conscientização das famílias e a atuação de educadores e profissionais de saúde são essenciais para prevenir e tratar esses problemas.

Em um país cada vez mais conectado, equilibrar os benefícios e os riscos da tecnologia é um desafio que exige esforço coletivo. A conscientização, o diálogo e o acesso a recursos de tratamento são ferramentas poderosas para enfrentar essa nova realidade.

Para aprofundar sua compreensão sobre o tema, confira o painel “Dependência Digital: Vivendo em Excessos” apresentado no 9º Congresso Internacional Freemind 2024 e disponível no YouTube do Freemind.