Missão e Omissão no Consumo de Drogas

A sociedade enfrenta um desafio complexo: educar, prevenir e reintegrar ou se omitir diante do crescente consumo de substâncias psicoativas. “A Missão e a Omissão da Sociedade” foi o tema do 9º Congresso Freemind 2024, refletindo a preocupação da Mobilização Freemind com a importância da prevenção e do cuidado. Entenda o papel das famílias, comunidades e políticas públicas nesse cenário.

A relação entre o ser humano e o uso de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, atravessa séculos de história e permanece como um dos grandes dilemas da sociedade moderna. Nas últimas décadas, o tema tornou-se ainda mais central no debate público devido à crescente normalização do consumo de substâncias psicoativas e ao impacto que esse hábito exerce sobre a saúde, a segurança pública e a estrutura social. Nesse contexto, duas palavras se destacam: missão e omissão. A missão da sociedade, representada por ações de prevenção, cuidado e reintegração, contrasta com a omissão, evidenciada pela negligência em discutir, lidar e enfrentar as causas e consequências desse problema.

Estudos apontam que o consumo de drogas é impulsionado por uma série de fatores, que vão desde questões psicológicas e sociais até pressões culturais e econômicas. A busca por prazer imediato, alívio de sofrimentos emocionais, fuga da realidade ou pertencimento a um grupo muitas vezes reflete contextos mais profundos de vulnerabilidade.

A missão: educação, prevenção e reabilitação

A missão da sociedade em relação ao uso de substâncias começa com a educação. Desde a infância, é essencial que as pessoas compreendam os riscos e as consequências do uso de substâncias, cujo abuso pode gerar dependência. Isso inclui não apenas informações sobre os efeitos nocivos à saúde, mas também conscientização sobre as implicações sociais, legais e emocionais que o consumo descontrolado pode acarretar.

Nesse sentido, políticas públicas eficazes devem ir além de campanhas isoladas. A educação deve ser contínua e aliada a ações preventivas que fortaleçam as redes de apoio familiar, escolar e comunitário. O trabalho de escolas, centros comunitários, organizações não governamentais e profissionais de saúde deve ser direcionado para a construção de alternativas positivas que ajudem a enfrentar desafios emocionais e sociais, proporcionando ao indivíduo ferramentas para resistir à pressão do consumo de substâncias.

Além disso, é urgente promover programas de reabilitação que incluam a reintegração social dos usuários, respeitando suas necessidades e particularidades. O tratamento de dependentes químicos não pode se limitar a medidas punitivas ou estigmatizantes. O foco deve estar no cuidado e no resgate da dignidade, oferecendo um caminho para a recuperação e a chance de retornar ao convívio social.

A omissão: a falta de políticas públicas e a normalização do consumo.

Entretanto, a sociedade também falha por sua omissão em relação ao uso de substâncias. A ausência de políticas públicas adequadas, o descompasso entre as necessidades da população e os serviços disponíveis, somados à persistente criminalização dos usuários de drogas, são fatores que agravam o problema.

A normalização do consumo de substâncias, especialmente entre os jovens, também é uma forma de omissão. Em vez de combater a banalização do uso como algo “natural” ou “inofensivo”, é necessário adotar uma postura crítica diante das influências midiáticas e sociais que glorificam o consumo de drogas, como ocorre em algumas redes sociais, filmes e músicas populares.

O papel das comunidades e das famílias

O combate ao uso problemático de substâncias não deve ser visto como responsabilidade exclusiva do Estado ou de organizações especializadas. Comunidades locais e famílias desempenham um papel crucial. É fundamental criar um ambiente de apoio e acolhimento, no qual o uso de substâncias seja tratado com empatia, compreensão e ações preventivas.

No caso das famílias, é essencial oferecer condições para um diálogo aberto, onde jovens e adultos possam compartilhar suas dificuldades e inseguranças sem medo de julgamento. A família deve ser, muitas vezes, a primeira linha de defesa contra o uso indevido de substâncias. Para isso, é indispensável que ela esteja preparada para oferecer suporte e informações adequadas.

Conclusão

A dependência química é uma questão multifacetada que exige da sociedade não apenas ações de prevenção, mas também um compromisso real com a educação, o cuidado e a inclusão social. A missão da sociedade é clara: não pode haver espaço para a omissão quando vidas estão em jogo.

O desafio é grande, mas a responsabilidade é de todos. Juntos, podemos construir um futuro em que as ações coletivas prevaleçam sobre a indiferença, salvando vidas e promovendo uma convivência mais saudável e equilibrada.