Fundação do Câncer, ACT, AMB, SBPT e outras instituições da área de saúde divulgam nota sobre pesquisa francesa que defende o uso da nicotina no combate ao novo coronavírus
Organizações lançam campanha #VapeVicia e alertam que fumantes, usuários de cigarros eletrônicos e narguilés têm quadro agravado quando contaminados pelo Covid-19
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para ampliação do risco de contágio por COVID-19 entre fumantes, usuários de cigarros eletrônicos e narguilés. Embora as pesquisas sobre o assunto ainda sejam recentes, análise das mortes entre pacientes chineses com diagnóstico de pneumonia associada ao novo coronavírus identificaram chances de progressão da doença 14 vezes maior entre fumantes. O levantamento vai de encontro à pesquisa francesa, que defende o uso da nicotina no combate ao novo coronavírus. O estudo em questão, que não foi revisado por pares e não faz referência a aprovação por nenhum comitê de ética em pesquisa, levou sete instituições renomadas em saúde a assinar nota técnica. Para as instituições, é “precoce e arriscado afirmar qualquer potencial fator protetor da nicotina para o SARS-CoV-2”, diz a nota. Veja a nota técnica completa.
Já a pesquisa chinesa, realizada em 55.924 casos confirmados em laboratório no país asiático, revelou, ainda, que a taxa de mortalidade é muito maior por Covid-19 entre doentes com doenças respiratórias crônicas, câncer, problemas cardíacos, diabetes e hipertensão.
De acordo com a OMS, fumantes têm maior vulnerabilidade à doença, pois a porta de entrada para o vírus são as mãos, a boca, o nariz e os olhos.
“O ato de fumar, em que o usuário segura o cigarro com os dedos e leva em contato com os lábios, aumenta a possibilidade da transmissão do vírus para a boca. Sem falar que o tabagismo é responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão e, além de reduzir a capacidade pulmonar, eleva as chances de complicações pela virose”, alerta Luiz Augusto Maltoni Jr, diretor executivo da Fundação do Câncer.
O especialista enfatiza, ainda, que o uso do narguilé é perigoso por envolver o compartilhamento de bocais e mangueiras entre várias pessoas, o que também pode acelerar a transmissão do COVID-19.
“Condições que aumentam as necessidades de oxigênio ou reduzem a capacidade do corpo de usá-lo adequadamente colocam os pacientes em maior risco de doenças pulmonares graves, como pneumonia. Vale lembrar que as doenças respiratórias associadas ao tabagismo, como a Evali, causada pelo uso de cigarros eletrônicos, ampliam os riscos de complicações pelo novo coronavírus“, afirma o cirurgião oncológico e diretor executivo da Fundação do Câncer.
Campanha #vapevicia
A ACT Promoção da Saúde, a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Fundação do Câncer estão lançando uma campanha em redes sociais sobre os perigos dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs).
Intitulada #VapeVicia, a campanha tem como conceito o potencial destrutivo da combinação de dois vícios: em tecnologia e em nicotina. A intenção é mostrar que as inovações empregadas nesses dispositivos eletrônicos são uma armadilha usada pela indústria do cigarro para conquistar novos fumantes.
Para Maltoni Jr. a união das três entidades vem reforçar a importância do combate ao fumo, já que um estudo do Instituto Nacional de Câncer verificou que o país gasta cerca de R$ 57 bilhões ao ano com despesas médicas e de perda de produtividade relacionadas a doenças provocadas pelo fumo. De acordo com o estudo, o país arrecada R$ 13 bilhões de tributos por ano com a indústria do tabaco, o que significa que há um rombo de pelo menos R$ 44 bilhões para o sistema de saúde brasileiro. Todos os dias, 428 pessoas morrem devido ao tabagismo no país.
Para a AMB, “esses novos produtos encobrem, numa nuvem de vapor, sérios riscos às políticas de controle do tabaco, não só pela predisposição à renormalização do tabagismo, estímulo à iniciação e recaída pela falsa percepção de segurança, mas também um aumento sem precedentes de doenças tabaco relacionadas causadas pelo cigarro acrescidas da contribuição dessas novas tecnologias para fumar. Num cenário onde o SUS e a Saúde Suplementar lidam com o desafio de enfrentamento dos altos custos da pandemia do coronavírus seria uma insensatez a liberação desses produtos”, destaca Alberto Araújo, presidente da Comissão de Combate ao Tabagismo da AMB.
“Os DEFs também viciam e causam doenças e mortes, por isso o alerta de nossa campanha. A novidade tecnológica atrai para a experimentação, mas depois aprisiona para o consumo, assim como outros produtos para fumar”, destaca Mônica Andreis, Diretora Executiva da ACT Promoção de Saúde.
Veja o que diz a campanha:
A Indústria do Tabaco quer falar sobre o cigarro eletrônico no Brasil. Ótimo, então vamos começar falando a verdade.
A PRINCIPAL VERDADE É QUE A INDÚSTRIA DO TABACO PERCEBEU QUE PODE USAR VAPORIZADORES PARA FAZER CRIANÇAS E ADOLESCENTES EXPERIMENTAREM A NICOTINA – E SE VICIAREM.
Nos Estados Unidos, segundo o Centers for Disease Control and Prevention, o número de estudantes de ensino fundamental e médio que usam cigarros eletrônicos aumentou em 1,8 milhão em apenas um ano – de 3,6 milhões em 2018 para 5,4 milhões em 2019. Os usuários já são 27,5% dos estudantes de ensino médio.(Centers for Disease Control and Prevention).
E essa não é a única verdade a ser dita, temos outras.
“Vapes”, “vaporizadores” ou “dispositivos eletrônicos para fumar” englobam cigarro eletrônico e tabaco aquecido que, muitas vezes, para melhorar o gosto e aumentar o consumo, ganham sabores e adoçantes, facilmente adicionados aos cartuchos de tabaco, e nicotina.
A tecnologia não invalida a possibilidade do usuário ter a saúde prejudicada, especialmente por problemas pulmonares. Segundo a Associação Americana do Coração (American Heart Association), os cigarros eletrônicos também contêm substâncias nocivas para a saúde e associadas com doenças.
Os vaporizadores também são responsáveis pelo aparecimento de uma nova condição que provoca lesões no pulmão e pode levar à morte. Essa síndrome já tem um nome: Lesão Pulmonar Associada a Produto de Vaping ou Cigarro Eletrônico, conhecida como Evali (E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury). Cigarros convencionais, narguilés e dispositivos eletrônicos para fumar também aumentam os riscos para a Covid-19, com agravamento do quadro pulmonar, além do fato de que fumantes podem ser mais acometidos por infecções respiratórias por outros vírus e bactérias.
O fato é que a indústria do cigarro quer convencer a opinião pública, os pais e as autoridades brasileiras que os vaporizadores fazem menos mal que o cigarro convencional, para ter a comercialização liberada no Brasil.
Mas a realidade é que o cigarro eletrônico ou de tabaco aquecido não afasta os fumantes do fumo – ao contrário, pode ser usado para atrair novos consumidores.
É uma tecnologia que vicia e mata. Por isso, não podemos permitir que seja liberada para ser comercializada. Simples assim.
Participe. Acesse e compartilhe as peças da campanha nas redes sociais e marque a Anvisa – órgão responsável pela liberação e fiscalização de produtos de tabaco no Brasil – nas postagens.
Para saber mais, acesse o hotsite da campanha: vapemata.org.br.
Fonte:
Nota Técnica completa:
https://cancer.org.br/wp-content/uploads/2020/04/Nota_ACT_2404.pdf