Mais de 10 mil pesquisas científicas foram analisadas por um gabaritado time de especialistas das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos (Nasem) em uma ampla revisão da literatura sobre os efeitos dos derivados da maconha, cujos resultados foram publicados em janeiro de 2017. A revisão, que envolveu estudos divulgados desde 1999, analisou as evidências científicas existentes até a data sobre os efeitos dos derivados da maconha para a saúde — e suas possíveis relações, positivas ou negativas, com doenças mentais, cardiovasculares, entre outros.
A discussão sobre os benefícios e malefícios da maconha veio à tona no dia 01/02/2017 com o posicionamento do ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso , que se declarou à favor da legalização da substância e da cocaína como forma de combater o tráfico de drogas.
“O cenário relacionado à maconha vem mudando rapidamente, com mais e mais estados legalizando os derivados das plantas do gênero cannabis para o tratamento médico e uso recreativo” — aponta a professora Marie McCormick, uma das autoras do estudo e pesquisadora da Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos. — A falta de qualquer conhecimento agregado sobre os efeitos da Cannabis para a saúde tem levado a incertezas sobre quais, se existem, são os perigos ou benefícios deste uso.
Confira as evidências científicas reunidas pela revisão:
- Efeitos terapêuticos
Segundo os pesquisadores da Nasem, há evidências que comprovam a eficácia dos canabinóides no alívio a dores crônicas em adultos. Para pacientes com espasmos musculares relacionados à esclerose múltipla, há evidências fortes de que o uso a curto prazo de medicamentos com estas substâncias contribuem no tratamento. Além disso, para pacientes passando por quimioterapia, há evidência conclusiva de que estes remédios foram eficazes na prevenção e tratamento de náuseas e vômito.
- Ferimentos e mortes
Estudos revisados sugerem uma relação entre o uso de maconha e posterior acidente com veículos, como carros. Além disso, há base factual que demonstra, em estados onde o uso da maconha é legalizado, um aumento na overdose não-intencional com Cannabis entre crianças.
Um estudo mostrou, por exemplo, que entre 2000 e 2013 a taxa anual de chamadas de emergência para infecções relacionadas a exposição à Cannabis em crianças foi 2,82 maior em estados americanos que haviam legalizado o uso medicinal da maconha do que aqueles em que este uso era proibido.
- Câncer
Em relação à ligação entre a maconha e o câncer, os pesquisadores não encontraram evidências substanciais de que fumar maconha possa aumentar o risco de cânceres frequentemente associados ao tabagismo, como no pulmão, cabeça e pescoço. Em relação a alguns tipos de câncer testicular, no entanto, há evidências positivas, mas ainda insuficientes.
- Ataque cardíaco, derrame e diabetes
De acordo com os cientistas, é preciso mais pesquisas para entender a associação entre o uso da maconha a ataques cardíacos e diabetes. No entanto, algumas evidências sugerem que fumar Cannabis pode desencadear um ataque cardíaco.
- Doenças respiratórias
As evidências sugerem que o fumo regular da maconha está associado a episódios mais frequentes de bronquite crônica e sintomas como tosse. Mas não há base factual suficiente para compreender a relação do uso da substância com doenças como a asma.
- Saúde mental
A evidência revisada pelo grupo sugere que o consumo de Cannabis é suscetível a aumentar o risco de desenvolver esquizofrenia, outras psicoses e distúrbios de ansiedade social e, em menor grau, depressão. Por outro lado, em indivíduos com esquizofrenia e outras psicoses, um histórico de consumo de Cannabis pode estar ligado a um melhor desempenho em tarefas de aprendizagem e memória. O uso pesado de maconha torna mais propensos pensamentos de suicídio e, e em indivíduos com transtorno bipolar, usuários quase diários da substância mostram ampliação dos sintomas.
- Efeitos psicossociais
Os pesquisadores apontaram que há evidências de que o consumo imediato de maconha prejudica o aprendizado, a memória e a atenção após o consumo imediato de maconha. Além disso, existe uma base factual limitada que relaciona o consumo de Cannabis a deficiências nos resultados acadêmicos, bem como nas relações sociais. A adolescência e a juventude são os períodos em que os jovens mais comumente começam a experimentar drogas, e é nesses períodos que as camadas neurais ligadas ao desenvolvimento da cognição são mais ativas.
- Abuso de substâncias
Os cientistas da Nasem encontraram evidências moderadas de que há uma ligação entre o consumo de Cannabis e o desenvolvimento de dependência e abuso de substâncias como álcool, tabaco e outras drogas ilícitas.
Fontes:
http://nationalacademies.org/hmd/reports/2017/health-effects-of-cannabis-and-cannabinoids.aspx