Estudo nacional entre universitários brasileiros sobre a religião como fator de proteção

As consequências nocivas do uso de álcool e drogas, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade são amplamente conhecidas. Diante disso, os pesquisadores têm procurado identificar fatores que são facilitadores do uso dessas substâncias e fatores que protegem contra o seu uso.

Nas últimas décadas, a religiosidade tem ganhado atenção especial na literatura científica pelo fato de ser um dos principais fatores de proteção para uso de álcool e drogas, além de estar relacionada à melhora na saúde como um todo. Uma das dimensões da religião que parece estar mais fortemente associada a resultados positivos para a saúde é a prática religiosa (por exemplo: frequentar missas, cerimônias, ler textos sagrados, orar).

Levando em consideração a escassez de pesquisas nacionais sobre o tema, um estudo teve como objetivo avaliar a influência da religiosidade no uso de drogas e outros comportamentos a partir de uma amostra representativa dos universitários brasileiros. Para tal, utilizou-se o banco de dados do I Levantamento Nacional sobre o uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras, realizado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) em parceria com o Programa do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (GREA-FMUSP).

Por meio de um questionário estruturado e anônimo, 12.595 jovens responderam aproximadamente 100 perguntas sobre uso de substâncias, religiosidade, questões acadêmicas, informações sociodemográficos, entre outras.

O envolvimento religioso foi avaliado pela frequência com que o estudante reportou ir a cerimônias, serviços ou outros tipos de reuniões religiosas. Os alunos responderam à pergunta: “Você pratica sua religião?”, podendo escolher uma das seguintes opções: (a) Não (b) Sim, apenas em eventos especiais, (c) Sim, mais de uma vez por mês. Aqueles que assinalaram a alternativa “c” foram classificados como “praticantes” (39%), enquanto os que reportaram as alternativas “a” ou “b” foram denominados “não praticantes” (61%).

Cerca de 85% dos estudantes relataram possuir alguma afiliação religiosa, sendo o catolicismo a mais frequente (50%), seguida pela evangélica/protestante (17,5%).

Entre os fatores sociodemográficos analisados, nota-se que o envolvimento com a religião é mais comum entre universitários mais velhos, negros e mulatos, casados e do sexo feminino. Ainda, os praticantes parecem ser mais propensos a frequentar bibliotecas e, dentre as atividades realizadas fora da instituição de ensino, dedicam tempo para o trabalho voluntário. Já os não praticantes são mais propensos a faltar às aulas, geralmente utilizando esse tempo para ficar com os amigos ou namorado(a), ir ao cinema, clube, praia ou realizar outra atividade de lazer.

Em relação ao uso de substâncias, 8% e 2% dos não praticantes relataram já ter feito uso de, respectivamente, álcool e de outras drogas quando faltavam às aulas, enquanto que essas taxas entre os que praticavam religião foram de 2% e 0,2%, respectivamente.

No mês que antecedeu a entrevista, verificou-se que os não praticantes relataram, em comparação aos praticantes, maior consumo de bebidas alcoólicas (80% versus 54%), tabaco (32% versus 14%) e drogas ilícitas (76% versus 17%). Ademais, constatou-se que os que não praticam religião são mais propensos a fazer uso de álcool, tabaco, maconha e outras drogas que os que praticam (2,5, 2,8, 2 e 1,4 vezes mais chances de uso para cada uma das substâncias citadas, respectivamente).

De maneira geral, o presente estudo demonstrou que os universitários que praticam a religião tendem a participar mais de atividades normativas (ir à biblioteca e realizar trabalho voluntário); já os não praticantes apresentaram comportamentos menos normativos e que podem, dependendo da circunstância, trazer riscos. Os autores esclarecem que possivelmente a religiosidade tem influência nos valores e comportamentos saudáveis dos indivíduos, protegendo-os de comportamentos que possam comprometer a saúde – incluindo o consumo de álcool e drogas – e, ainda, melhorar a qualidade de vida. Contudo, embora a religiosidade seja um fator protetor, o mecanismo pelo qual essa proteção se confere ainda é desconhecido.

Os pesquisadores sugerem que a inserção de aspectos espirituais em programas de prevenção e no tratamento de problemas relacionados ao consumo de álcool e drogas pode ser útil para reduzir a prevalência do uso entre os universitários. Além disso, enfatizam que novos estudos são necessários para identificar e esclarecer os mecanismos pelos quais a religiosidade exerce essa influência protetora.

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/3391/religiao-como-um-fator-protetor-para.php