Estilos parentais: você sabe qual é o seu e como ele pode influenciar a vida de seus filhos, sua autoestima e seus relacionamentos?
Todos nós sabemos que não existe uma forma absolutamente correta de educar as crianças. No entanto, desde a década de 1930, alguns pesquisadores estudaram diferentes tipos de estilos parentais e seus efeitos sobre os filhos.
Na década de 1960, a psicóloga clínica americana Diana Baumrind estudou, classificou e descreveu a maioria deles. O modelo proposto por ela é amplamente utilizado até os dias de hoje.
A autora definiu os estilos parentais como o conjunto de atitudes e práticas dos pais em relação aos filhos que caracteriza a natureza da interação entre eles. Tal proposta considera paralelamente aspectos emocionais e comportamentais da conduta parental. Os valores e as crenças parentais, somados ao temperamento da criança, definem o estilo parental.
Ela observou crianças em idade pré-escolar e descobriu que existem três modos parentais entre os pais: autoritativo, o autoritário e o permissivo.
Mais tarde, na década de 1980, os psicólogos Eleanor Maccoby e John A. Martin dividiram os estilos de tolerância em dois tipos: negligência e indulgência (o mesmo que permissivo). Com isso, agora temos 4 métodos parentais universais e, sim, você pode se incluir em um deles!
A operacionalização de Baumrind subsidiou os estudos de Maccoby e Martin, que estabeleceram como parâmetros de diferenciação dos estilos parentais duas dimensões chamadas de responsividade (responsiveness) e exigência (demandingness).
Responsividade refere-se a atitudes compreensivas dos pais que visam, por meio do apoio emocional e da comunicação, favorecer o desenvolvimento da autonomia e da autoafirmação dos filhos.
Já exigência inclui atitudes dos pais que buscam controlar os comportamentos dos filhos por meio de limites e regras.
Pais com elevadas responsividade e exigência são classificados como autoritativos; já aqueles que apresentam baixas responsividade e exigência são tidos como negligentes.
Pais muito responsivos, mas pouco exigentes, são categorizados como indulgentes, enquanto os muito exigentes e pouco responsivos são considerados autoritários.
Caracterização dos estilos
Pais autoritativos:
– Encorajam a liberdade e a autonomia e são responsivos às necessidades e às opiniões dos filhos
– Seus padrões de comportamento são baseados no respeito à individualidade dos membros da família, sendo um reflexo da abertura para o diálogo e da promoção da autonomia.
– Os pais exercem o controle quando necessário, porém não punem os filhos por meio de privações rígidas.
– Encorajam verbalizações, explicam o porquê das atitudes de controle e são claros em relação a suas expectativas.
– Contribuem para que os filhos desenvolvam competência psicossocial, apresentem boa autoestima e bem-estar psicológico.
– De acordo com uma revisão da literatura sobre a relação entre estilos parentais e comportamentos de risco em adolescentes, identificou-se menor uso de drogas, ideação suicida e autolesão em filhos de pais autoritativos.
– Verificou-se, também, uma relação negativa entre apoio emocional dos pais e depressão em adolescentes.
Pais indulgentes ou permissivos:
– Pais indulgentes tem dificuldade para impor limites e fazer exigências aos filhos.
– O estilo parental indulgente, também chamado de permissivo, é marcado pela flexibilidade e evitação de conflitos.
– Pais indulgentes tendem a não reconhecer ou corrigir maus comportamentos.
– Não são claros em relação a suas expectativas.
– Filhos de pais indulgentes podem desenvolver autonomia e apresentar boa autoestima, entretanto, em virtude do baixo nível de monitoramento parental, tendem a apresentar problemas relacionados a hiperatividade, comportamento agressivo e abuso de substâncias.
– Um estudo realizado com adolescentes afroamericanos com idades entre 11 e 14 anos investigou a relação entre estilos parentais e violência. Identificou-se que os adolescentes que descreveram suas mães como permissivas eram mais propensos a antever respostas violentas à uma situação hipotética.
Pais negligentes:
– A falta de engajamento na vida dos filhos e de interesse em oferecer assistência emocional é característica de pais negligentes.
– A negligência compromete o desenvolvimento psicológico de crianças e adolescentes, prejudicando sua competência social e aumentando a ocorrência de depressão, ansiedade e somatizações.
– A literatura aponta que adolescentes criados por pais negligentes apresentam uma tendência maior de demonstrar estratégias desadaptativas de realização acadêmica, caracterizadas por comportamentos irrelevantes e passividade, os quais inibem o sucesso acadêmico.
– Filhos de pais negligentes apresentam maior risco de fazer uso de drogas ilícitas.
– Um estudo realizado por Tur-Porcar teve como objetivo avaliar a relação entre estilos parentais e uso da internet. Os resultados indicaram uma relação positiva entre estilo parental negligente e comportamentos aditivos no que concerne ao uso da internet.
Pais autoritários:
– Agem de forma rígida, impõem regras, não encorajam o diálogo e limitam a capacidade de autorregulação dos filhos.
– São altamente demandantes e diretivos, mas tendem a não ser responsivos às necessidades emocionais dos filhos.
– É um estilo parental controlador, frustrante e punitivo, o que pode produzir altos níveis de medo, raiva e retraimento social nos filhos. Em decorrência disso, crianças e adolescentes cujos pais são autoritários apresentam maior risco de desenvolver depressão, ansiedade e fazer uso abusivo de substâncias.
– Pais autoritários podem utilizar punições físicas sob a justificativa de controlar, educar e disciplinar os filhos. O uso da “palmada”, considerada a forma mais comum de punição física, ainda é normalizado em muitos contextos sociais. No entanto, são experiências que geram dor física e emocional, o que potencializa prejuízos para o desenvolvimento e a saúde das crianças. Com o passar do tempo, a experiência de sofrer violência por alguém que a criança ama e de quem depende pode levar a sentimentos de desconfiança e prejudicar o estabelecimento de relações saudáveis com outras pessoas.
Estudos recentes têm apontado que o ambiente familiar pode ser uma fonte importante de estresse e afetar a estrutura e a funcionalidade do cérebro das crianças.
Relações entre pais e filhos marcadas por tensões e violência são identificadas como particularmente prejudiciais. Quando uma criança vivencia uma situação assustadora ou ameaçadora, há um aumento de seus batimentos cardíacos, secreção de hormônios do estresse, maior fluxo de sangue para o cérebro e a sensação de vigilância e medo.
Se ela puder contar com o suporte de um adulto, irá se tornar capaz de regular suas emoções e aprender formas efetivas de lidar com a situação que gerou estresse. No entanto, se a resposta ao estresse for ativada repetidas vezes e não houver o suporte de um adulto, tais experiências podem levar a consequências negativas.
Crianças constantemente expostas a situações que representam ameaça podem ter dificuldades de memória e regulação das emoções, bem como aumento das respostas de medo. Em longo prazo, tais alterações podem ser a origem de doenças relacionadas ao estresse.
Os 4 tipos de estilos parentais
Seja o seu estilo parental comum às características dos 4 tipos descritos ou não, é importante saber uma coisa: a criação que você dá ao seu filho pode afetar tudo na vida dele, desde o peso até o que ele pensa sobre si mesmo e a forma como se relaciona com outras pessoas.
É importante, portanto, garantir que o seu tipo de educação esteja apoiado em crescimento e desenvolvimento saudáveis. O segredo é entender que ninguém é perfeito, e tudo bem.
O importante é, a partir destes estilos, saber identificar seus erros e acertos e seguir em frente, buscando sempre pela excelência.
Fontes: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872020000100002