A estigmatização é uma barreira, mas o caminho da reinserção social para dependentes químicos existe
Estigmatização é o processo de rotulação, estereotipação ou discriminação de uma pessoa. Já a reinserção social é o esforço de reintegrar o indivíduo à sociedade, promovendo sua participação coletiva, respeitando sua individualidade e prevenindo recaídas.
Segundo Nancy Dudley, consultora do Plano Colombo, existem três tipos de estigmas: o percebido, o internalizado e o expresso. As pessoas podem julgar a si mesmas, os outros e, muitas vezes, a sociedade promove imagens negativas daqueles que enfrentam transtornos por uso de substâncias. “Provavelmente, uma das coisas mais importantes que ensinamos no curso do Plano Colombo é reduzir o estigma. O antídoto para o estigma é a empatia”, afirma Nancy.
Uma história de superação:
No 9º Congresso Internacional Freemind 2024, Nancy compartilhou sua própria vivência com a estigmatização. “Sou uma pessoa em recuperação de longo prazo. Em setembro de 2024, comemorei 39 anos de liberdade das drogas. Nos últimos 35 anos, ajudei outros a encontrarem essa mesma liberdade. Vivi o julgamento duro da estigmatização. Meu uso foi grave: morei nas ruas, comi do lixo, fui presa e passei por vários tratamentos sem sucesso. O pior estigma que vivi foi o que eu mesma me impus.”
Atualmente, Nancy trabalha como consultora desenvolvendo programas de tratamento e recuperação em países da Ásia, África e América Latina, com foco na criação de políticas antidrogas eficazes.
Vivências e práticas:
A reinserção social exige um projeto de vida personalizado, que inclui saúde, relacionamentos, moradia, finanças, qualificação profissional e atividades de lazer e cultura. Segundo Hiram Ravache, psicólogo e diretor técnico do site Como Onde Trata (COT), é essencial que o indivíduo encontre novos prazeres e, sempre que possível, participe de trabalhos voluntários. “Atividades sem retorno financeiro ajudam na construção de novos significados para a vida”, explica.
Estágios motivacionais:
Aline Coraça, terapeuta ocupacional e especialista em saúde mental e dependência química, destaca a importância das etapas do processo de mudança, conhecidas como estágios motivacionais:
- Pré-contemplação: O paciente ainda não reconhece os problemas decorrentes do uso de substâncias.
- Contemplação: Ele toma consciência dos prejuízos e considera mudanças.
- Preparação: Elabora planos concretos para agir.
- Ação: Implementa estratégias para superar obstáculos, como fissuras e gatilhos.
- Manutenção: Garante suporte contínuo e monitora o progresso, prevenindo recaídas.
Aline também enfatiza a criação de uma rede de apoio como fator crucial no processo de reinserção, especialmente para pacientes com vínculos familiares comprometidos. “Uma rede de apoio é um fator de proteção indispensável para sustentar a recuperação”, reforça.
Conclusão:
Reduzir o estigma e oferecer suporte emocional e social são passos essenciais para a reinserção social de dependentes químicos. A integração de empatia, planejamento personalizado e redes de apoio cria um caminho real para a superação e reintegração desses indivíduos na sociedade.