Drogas – Pra que te quero? Drogadição e Adolescência na Voz dos Socioeducadores

Um estudo realizado por Luciene Jimenez, Rubens Adorno e Vanda Regina Marques, em parceria com a Universidade Anhanguera (UNIBAN), A Universidade de São Paulo (USP) e o Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo, tratou de estudar a postura de 6 socioeducadores sobre a relação entre o uso de drogas e os adolescentes.

O artigo discute os resultados de uma pesquisa que abordou a saúde dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto através da perspectiva dos socioeducadores. Visitas a campo e entrevistas foram realizadas em uma organização não governamental existente na região sul da cidade de São Paulo, voltada para o trabalho com adolescentes em cumprimento de Liberdade Assistida e/ ou Prestação de Serviços à Comunidade, no período entre julho/2011 e julho/2012, com 8 socioeducadores que trabalham na área em média há dois anos e meio e são de diferentes formações universitárias.

Através do estudo pode-se concluir que as razões pelas quais os adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa fazem uso de drogas e sua relação com a prática infracional e a saúde são temas complexos que solicitam que se considerem os diversos fatores e cenários nos quais a prática infracional e o uso de drogas se desenrolam.

A ausência na execução das políticas públicas pautadas remete a intenso sofrimento social amenizado, em parte pelo uso recreativo ou intenso da maconha. A possibilidade de atividades de lazer, esporte, melhor acesso à educação e ao trabalho poderia tanto se contrapor como intercalar com o uso da droga. Quanto ao uso da cocaína/crack, embora os profissionais entrevistados identifiquem que 6% dos adolescentes apresentam o que pode ser chamado de um padrão de “dependência” e solicitam e/ou aceitam a oferta de tratamento, pode-se supor que um número superior faça uso destas substâncias sem que as mesmas interfiram de modo significativo em suas vidas.

A dependência de drogas é um dos possíveis prejuízos que podem advir do consumo de drogas, no entanto, a ênfase dada a este grupo traz como consequência uma intervenção direcionada para os casos considerados problemáticos, o que significa colocar em evidência um grupo específico e reduzido de consumidores.

Mesmo para este pequeno grupo, a prática infracional não apareceu relacionada ao uso de drogas, e a relevância remeteu às severas dificuldades de acesso aos serviços públicos de saúde. A previsão legal de serviços de atenção secundária à saúde voltadas para crianças e adolescentes usuários de drogas – UAi – data apenas do ano de 2012 e são raras na cidade de São Paulo, fazendo com que esse grupo seja acolhido em instituições voltadas para adultos (CAPS-AD).

A forma como essa política vem sendo executada, provoca um sofrimento social que se transforma em um agravo da saúde da maior importância, denunciando ações de saúde que resultam, entre outros efeitos, na prescrição de medicamentos que podem potencializar o efeito das drogas já utilizadas, e até na internação de adolescentes em instituições totais.

O fato de uma adolescente de 13 anos ser encaminhada pelo juiz para internação na Fundação Casa, para tratar a dependência de cocaína, e tantos outros serem internados em instituições de cunho religioso destinadas a adultos revela a fragilidade da execução das políticas públicas para adolescentes usuários de drogas. Apenas aproximadamente 1% dos adolescentes apresentam um padrão de uso intenso e de diversas drogas, o que foi relacionado à prática infracional e à desagregação familiar, e que desafia as possibilidades de abordagem dos socioeducadores, pois alguns se encontram em situação de rua.

É importante salientar que uma política efetiva de atenção aos adolescentes e jovens usuários de drogas deve atentar para as heterogeneidades presentes neste universo, as quais foram parcialmente desveladas neste artigo, que abarcou uma pequena parte dos socioeducadores. Os achados devem ser considerados parciais e indicativos de que o tema merece estudos mais aprofundados que incluam socioeducadores de outras regiões da cidade, como também a voz dos próprios adolescentes.

Para ter acesso ao estudo, acesse: http://periodicos.unb.br/index.php/revistaptp/article/download/23023/22118