Primeiramente, é importante ressaltar que as mulheres enfrentam riscos particulares à saúde por uso de álcool, sendo mais vulneráveis aos efeitos dessa substância devido a diferenças na composição biológica entre os gêneros. Em comparação aos homens, elas têm relativamente menos água (o que faz com que o álcool fique mais concentrado), geralmente pesam menos e possuem níveis menores de enzimas responsáveis pelo metabolismo do álcool.
Isso faz com que, quando consumidas as mesmas quantidades de bebidas alcoólicas que os homens, elas apresentem níveis mais elevados de álcool no sangue e demorem mais tempo para metabolizá-lo, ou seja, os efeitos ocorrem mais rapidamente e tendem a ser mais duradouros. Com isso, elas têm maior probabilidade de ter problemas relacionados ao álcool com níveis de consumo mais baixos e/ou em idade mais precoce do que os homens.
Informações sobre as potenciais consequências negativas do álcool para a saúde e outros aspectos relacionados à saúde feminina estão listados abaixo.
Transtornos por uso de álcool
Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,6% das mulheres brasileiras apresentam algum transtorno relacionado ao uso de álcool, sendo que 0,5% apresenta diagnóstico de dependência.
Risco para dependência entre universitárias
Quase 84% das universitárias apresentaram baixo risco para desenvolver dependência do álcool, enquanto 15% exibiram risco moderado e 1%, alto risco. Tais dados reforçam a necessidade de cuidado e assistência, além de políticas de prevenção do uso nocivo de álcool e estratégias de intervenção direcionadas a essa parcela de 16% de jovens mulheres com grandes chances de desenvolver problemas relacionados ao beber.
Álcool e nutrição
Pessoas que bebem mais também são propensas ao consumo de mais calorias, a partir da combinação de bebidas alcoólicas com alimentos ricos em gorduras e adição de açúcares, de acordo com estudo multicêntrico divulgado pelo National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism – NIAAA. O estudo com mais de 15 mil adultos norte-americanos revelou que o aumento da ingestão de bebida alcoólica foi associado com diminuição da qualidade da dieta. “Beber pesado e fatores da dieta foram independentemente associados com doenças cardiovasculares, certos tipos de câncer e outros problemas crônicos de saúde. Esta descoberta levanta questões sobre a possibilidade da combinação do uso indevido de álcool e má alimentação interagirem aumentando ainda mais os riscos para a saúde.”, segundo o Diretor do NIAAA, Dr. Kenneth R. Warren.
Ainda, as bebidas alcoólicas fornecem calorias de forma importante (cada grama de álcool puro fornece 7 calorias), mas poucos nutrientes (proteínas, vitaminas ou minerais), por isso são chamadas de “calorias vazias”. Uma dose de bebida alcoólica* contém cerca de 80 a 100 kcal.
Vale lembrar que, quando consumido em excesso, o álcool pode diminuir a absorção ou prejudicar o metabolismo de diversos nutrientes. Por exemplo, interfere na absorção de vitaminas no intestino delgado e diminui seu armazenamento no fígado, com efeitos no folato (ácido fólico), na piridoxina (B6), na tiamina (B1), no ácido nicotínico (niacina, B3) e na vitamina A. Sendo assim, dependendo da quantidade e padrão de consumo do álcool, o estado nutricional de uma pessoa pode ser afetado seriamente.
Álcool e libido
Independentemente do sexo, o álcool pode aumentar a autoconfiança e levar à desinibição social, o que poderia facilitar, para alguns indivíduos, encontros afetivos ou sexuais ou, ainda, as estratégias de conquista e busca de parceiros. Há a crença de que essa substância, quando ingerida em baixas quantidades, melhora o desempenho sexual ou aumenta a libido – na realidade, isso pode ser verdadeiro para algumas pessoas, mas, dependendo da quantidade ingerida, o álcool pode diminuir a libido.
Estudos recentes mostram que o álcool atenua a excitação sexual fisiológica; porém, quando consumido em baixas quantidades, está associado a maior excitação sexual autorrelatada. Isso poderia ser explicado pelo fato de que expectativas sexuais positivas associadas ao álcool podem levar a maior desejo sexual após o consumo de bebidas alcoólicas, ou seja, as pessoas que acreditam fortemente que o álcool aumenta a excitação sexual e desempenho de fato relatam um aumento de desejo sexual, mesmo que fisiologicamente isso não seja observado.
Mais importante: tais expectativas positivas em relação aos efeitos álcool estão associadas a uma maior propensão a praticar sexo sem proteção depois de beber. Ademais, o álcool leva à diminuição da percepção de riscos e dificuldade na tomada de decisões. Assim, um dos maiores problemas decorrentes é ter relações sexuais sem proteção, o que aumenta os riscos de ocorrer transmissão de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada, por exemplo.
Em paralelo, o uso abusivo do álcool se correlaciona de forma significativa para comportamentos violentos, gerando maior vulnerabilidade a brigas ou relação sexual não consentida em determinadas pessoas. Em última instância, se relaciona com quantidade de vítimas afetadas, entre as quais a mulher intuitivamente é mais exposta.
Álcool e humor
Transtornos de humor e ansiedade coexistem com transtornos por uso de álcool em cerca de 20% dos casos (excluindo casos transitórios que resultam do uso de álcool e/ou sua retirada, condições que normalmente melhoram espontaneamente), como revelado em amplo estudo.
Sabe-se que sintomas de depressão e ansiedade estão presentes de forma mais comum em mulheres que em homens. Além disso, elas podem apresentar ainda tais sintomas na forma de uma síndrome, chamada de Transtorno Disfórico Pré-menstrual, diagnóstico recentemente descrito pelo DMS-5. O uso de álcool em quem apresenta tais sintomas tende a ocorrer de maneira mais problemática, estando essas pessoas mais vulneráveis ao uso nocivo.
Outras particularidades dos potenciais danos do uso de álcool à saúde:
Danos ao fígado: mulheres que bebem são mais propensas a desenvolver a inflamação do fígado que os homens;
Doença cardíaca: mulheres são mais suscetíveis à doença cardíaca relacionada ao álcool que os homens;
Câncer de mama: mulheres que ingerem cerca de uma dose de álcool por dia também têm uma chance maior de desenvolver câncer de mama em comparação com as mulheres abstinentes;
Gravidez: beber em qualquer quantidade durante a gravidez representa risco para mãe e para o feto, que estará propenso a problemas de aprendizado, comportamentais e outros.
Quando o consumo passa a oferecer risco?
Segundo o NIAAA, os limites de consumo de baixo risco entre as mulheres incluem as duas recomendações a seguir, que precisam ser seguidas juntas, e não são excludentes:
Não consumir mais do que 7 doses de álcool por semana;
Não consumir mais do que 3 doses em um único dia.
Mesmo dentro desses limites, o NIAAA alerta que o indivíduo pode ter problemas se beber muito rapidamente ou apresenta outros problemas de saúde. Ainda, é preciso certificar-se de comer o suficiente.
A OMS ainda recomenda que o consumo de bebidas alcoólicas não deve ser feito se a pessoa:
estiver grávida ou amamentando;
for dirigir, operar máquinas ou realizar outras atividades que envolvam riscos;
apresentar problemas de saúde que podem ser agravados pelo álcool;
fizer uso de medicamento que interage diretamente com o álcool;
não conseguir controlar o seu consumo.
Vale ressaltar que o uso de álcool também não é recomendado para crianças e adolescentes, quando o sistema nervoso central ainda está em desenvolvimento e, portanto, suas vias neuronais encontram-se mais suscetíveis aos efeitos do álcool, podendo levar ao comprometimento de várias funções.
*Uma dose de bebida alcoólica equivale a aproximadamente 330 ml de cerveja, 100 ml de vinho ou 30 ml de destilado.
Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/5187/consumo-alcool-saude-mulher.php