Para um dependente químico, manter-se limpo é um grande desafio. Em sua trajetória, pode ser que aconteçam recaídas e o dependente volte a usar drogas. Primeiro de tudo, é muito importante entender que as recaídas são normais e fazem parte do processo de recuperação do dependente químico.
A recaída se define como qualquer retorno ao comportamento vicioso ou ao estilo de vida anterior, depois de um período inicial de abstinência e de mudanças no estilo de vida. Esse período de abstinência deve ser de, no mínimo, um a três meses; após esse período, as primeiras crises poderão surgir.
É importante ressaltar que a recaída não é um retorno breve ao comportamento vicioso, ela deve indicar uma frequência ou retorno prolongado à conduta aditiva. Substituir um comportamento vicioso por outro, também é sinal de potencial recaída.
A família tem um papel fundamental em antecipar o aparecimento de deslizes e recaídas, descobrindo mudanças que acontecem na forma de comportar-se como, por ex.: o tom da voz, o olhar, falta de objetos na casa, etc.
Prevenção de recaída em terapia individual:
Geralmente, a técnica mais importante para abordar um deslize ou uma recaída é a confrontação. A reação inicial do paciente costuma ser a negação ou o encobrimento, evitando assumir responsabilidades pelo fato acontecido e, mesmo depois de reconhecer o deslize ou a recaída, costuma atribuí-lo à causas externas. Na confrontação, a presença da família é importante, para que possa aportar informação objetiva sobre os fatos que puderam ter dado lugar à recaída.
Prevenção de recaída em terapia de grupo:
A terapia de grupo está orientada à solução de problemas e à realização de tarefas para lograr a abstinência e a mudança do estilo de vida do dependente. Segundo este ponto de vista, alguns pacientes no grupo de dependentes de drogas assimilaram interiormente mais que outros o processo pessoal de deixar a droga, e isto faz com que possa confrontar com mais facilidade a negação e argumentação daqueles que caíram. Ao mesmo tempo, serve para reafirmar o processo terapêutico daqueles que servem de modelo para os demais.
Prevenção de recaída em terapia familiar:
Geralmente, os pais com filhos dependentes de droga, não tem tanta facilidade em distinguir os sinais que levam um indivíduo a cometer deslizes ocasionais e a recair.
O objetivo consiste em ensinar aos pais, em grupo, a distinguir sinais que antecedem uma recaída e quais as condutas que são características da preparação e incubação da mesma.
Existem algumas situações de alto risco característico de indivíduos em tratamento que as pessoas a sua volta podem observar. Por exemplo, a movimentação de dinheiro. Se o paciente movimentou dinheiro suficiente para adquirir droga para consumo, é provável que, em breve, ele sofra uma recaída. Por isso, é recomendado que o adicto não ande com muito dinheiro, pois se ele acaba passando por um local que venda droga e tem dinheiro suficiente para isso, é muito provável que um deslize aconteça.
O consumo de outras drogas também é sinal de possível recaída: álcool e tabaco, assim como outros fármacos psicoativos, são fatores de risco. A droga lícita só vai ser usada pelo adicto como uma tentativa de alcançar efeitos similares aos de outras drogas.
Outro sinal é o adicto realizar atividades com pessoas que consomem drogas. Por isso é muito importante que as relações interpessoais do indivíduo sejam mudadas e que ele não conviva com outros usuários de droga durante seu tratamento, para evitar a recaída.
Algumas atitudes negativas podem também alertar para uma possível recaída, como o paciente ter dúvidas sobre o processo de recuperação, impaciência, insatisfação, e etc. Sentimentos crônicos não resolvidos de tédio, depressão, solidão, infelicidade, tristeza, ira, ansiedade e culpa, são precursores da recaída, bem como lembranças traumáticas.
Deixar de consumir produz um vazio no indivíduo que dá lugar a sentimentos contraditórios e a uma alteração do estado de ânimo. Como controlar tudo isso, deve ser motivo de abordagem no programa de intervenção individual ou grupal.