Cigarro Eletrônico: uma doce ilusão

Cigarros eletrônicos: a ilusão mortal por trás da fumaça saborizada

Os cigarros eletrônicos, popularmente conhecidos como “vapes”, são dispositivos que vaporizam substâncias diversas, simulando o ato de fumar sem combustão. Em vez de queimar tabaco, aquecem uma solução química chamada e-líquido ou juice, que pode conter nicotina, aromatizantes, glicerina vegetal e propilenoglicol. Este último, ao ser aquecido a temperaturas superiores a 150ºC, libera formaldeído, uma substância reconhecidamente cancerígena.

A ausência de combustão leva muitos a acreditarem que os vapes são menos prejudiciais que os cigarros tradicionais e até auxiliares no processo de cessação do tabagismo. Contudo, essa percepção é equivocada. Além da nicotina, os usuários inalam formaldeído e metais pesados como níquel, cromo e alumínio. Estudos indicam que, em um ano, um usuário frequente de vape pode acumular até seis vezes mais nicotina no organismo do que um fumante de 20 cigarros convencionais por dia.

 

VAPE, O CAMINHO MAIS CURTO PARA A DEPENDÊNCIA DO TABAGISMO

O 9º Congresso Internacional Freemind trouxe especialistas como a Dra. Stella Martins – médica assistente do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, o Dr. Paulo Correa – coordenador da Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e o Dr. Guilherme Athayde Ribeiro – Promotor de Justiça em Campinas-SP e especialista em dependência química para trazer dados e debater esse assunto tão importante. Veja um pouco do que apresentaram:

A Dra. Stella Martins, alertou que a popularização dos vapes representa uma nova e perigosa porta de entrada para o tabagismo, especialmente entre jovens e adolescentes. A quarta geração desses dispositivos contém altas concentrações de sais de nicotina, substâncias psicoativas que induzem rapidamente à dependência. Observa-se também o uso dual, onde indivíduos alternam entre cigarros eletrônicos e tradicionais, aumentando o consumo de nicotina e dificultando a prevenção do tabagismo.

Pesquisas em andamento buscam compreender como o uso desses dispositivos pode causar lesões nas vias aéreas, doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC) e outras complicações respiratórias em um período de cinco anos. No Brasil, os cigarros eletrônicos são proibidos devido à sua toxicidade e ao risco cardiovascular associado às partículas ultrafinas que produzem.

O Dr. Paulo Correa, por sua vez, destacou que a atratividade dos vapes, com seus diversos aromas e sabores, é especialmente preocupante. A indústria do tabaco explora a vulnerabilidade dos jovens, perpetuando a dependência à nicotina e facilitando a transição para o tabagismo tradicional. Esses produtos aumentam significativamente a iniciação ao cigarro convencional, aumentando a dependência e ampliando o mercado global de nicotina.

 

EFEITOS A CURTO E MÉDIO PRAZOS

 Os danos à saúde causados pelos cigarros eletrônicos incluem a inalação de metais pesados que, em jovens, podem levar a problemas respiratórios graves e, em idosos, a danos pulmonares que contribuem para o desenvolvimento de doenças como o Alzheimer. Estudos em animais apontam para a ocorrência de adenocarcinoma de pulmão e câncer de bexiga. O risco de desenvolver DPOC é significativamente maior quando se associa o uso de cigarros eletrônicos aos convencionais.

A longo prazo, há evidências alarmantes de aumento da mortalidade cardiovascular em jovens e risco elevado de câncer. Além disso, o uso de vapes está associado ao dobro de incidência de disfunção erétil em comparação aos cigarros tradicionais.

 

REGULAMENTAÇÃO OU PROIBIÇÃO?

Especialistas defendem que a única regulamentação eficaz para os cigarros eletrônicos é a proibição total. A ocorrência de acidentes vasculares cerebrais (AVC) em usuários de vapes tem sido registrada em idades mais precoces, por volta dos 48 anos, em comparação aos 59 anos nos fumantes tradicionais. Embora os vapes possam reduzir a exposição a algumas substâncias presentes nos cigarros convencionais, introduzem outras ainda mais nocivas, tornando a ideia de redução de danos ilusória.

Experiências de países com políticas liberais em relação aos cigarros eletrônicos, como a Inglaterra, demonstram um aumento da mortalidade cardiovascular entre os jovens. Esses dispositivos não apenas triplicam o risco de iniciação ao tabagismo tradicional, mas também intensificam a dependência à nicotina, somando os riscos à saúde de ambos os tipos de cigarro. O uso concomitante de cigarros eletrônicos e convencionais, conhecido como “risco dual”, potencializa os danos à saúde.

O Dr. Guilherme Athayde, concluiu: “Nunca chegamos tão perto de institucionalizar a mentira com cor, cheiro e sabor de morango, manga ou baunilha, escondendo insidiosamente o fétido odor da morte que teremos nas presentes e futuras gerações.”