As escolas e os profissionais da educação devem ter em mente que a prevenção dentro de sala de aula é essencial para os jovens. A Cartilha de Política de Drogas do Governo possui diversas instruções sobre como abordar o assunto ou como agir nesses casos. Porém sabemos que é muito difícil conversar com jovens e muitas vezes eles não querem ouvir o que o adulto tem a dizer, ou acreditam que é “bobagem”. Isso acontece porque a visão de comportamento que esses adolescentes têm acaba sendo deturpada. E porque, muitas vezes, outros problemas estão por trás da vontade de experimentar drogas. E as pesquisas indicam isso.
Estudantes de alto risco, ou seja, que tem mais chances de experimentação, tendem a ter uma concepção deformada da realidade. Quando convidados a estimar a proporção de jovens que, como eles, bebem, fumam e usam outras drogas, estes tendem a dar porcentagens bem mais altas do que na verdade as pesquisas indicam. Estudos também mostram que, quando esses estudantes são convidados a contrastar suas estimativas de consumo com dados reais de uso, provoca-se uma situação de discrepância propiciadora de mudança. Muitos jovens, ao terem sua percepção da realidade “corrigida” reconsideram seu uso de substâncias.
Os programas mais efetivos são aqueles nos quais os jovens têm a oportunidade de exercitar maneiras de lidar com os desafios normais de sua faixa etária, como: vencer a timidez, aprender a se comunicar, agir diante de agressões, tomar decisões na vida pessoal e escolar. As pesquisas indicam que esses são os motivos emocionais mais comuns para experimentar drogas, esperando que assim elas aliviem esses problemas. Ou seja, é uma visão equivocada que pode ser mudada por educadores.
Uma matéria diferente na escola: competência para viver
Vários trabalhos científicos mostram que ajudar os jovens a lidar com questões de timidez, sensibilidade extrema, frustração, dificuldade de se colocar diante de um grupo, dentro do currículo escolar, resulta numa diminuição do uso de drogas entre estudantes, que perdura por, pelo menos, seis anos após o desenvolvimento das atividades.
O projeto mais exemplar nesse campo é o Life Skills Training (LST), (Treinamento das Habilidades de Vida) concebido na Cornell University por Gilbert Botvin e colegas. Esse programa convida estudantes e professores a discutir os desafios afetivos e emocionais dentro da sala de aula e a tentar criar e exercitar formas de lidar com eles. Propõe três eixos de atividades, cada um focado no desenvolvimento de habilidades sociais distintas:
-Autogerenciamento – ajuda estudantes a analisar sua autoimagem e os efeitos dela no seu comportamento, determinar objetivos pessoais de vida, monitorar progressos nesse sentido, identificar comportamentos e decisões cotidianas que foram influenciadas por outras pessoas, analisar essas situações e aprender a avaliar as consequências de determinados comportamentos antes de adotá-los;
-Habilidades sociais gerais – ajuda os estudantes a superar a timidez e a dificuldade de se comunicar, a obter firmeza na comunicação verbal e não verbal, tanto na recusa como na aceitação de convites, assim como trabalhar com o reconhecimento de alternativas viáveis à passividade ou agressividade diante de situações difíceis.
-Habilidade de resistir a drogas – ajuda os jovens a reconhecer os mitos e concepções equivocadas, disseminadas socialmente, em relação ao cigarro, álcool, medicamentos e drogas ilícitas, assim como lidar com a pressão dos meios de comunicação de massa e dos amigos para usá-los. Adolescente tem muito orgulho de ter autonomia e ideias próprias. Assim, embora os dados sejam unânimes em apontar pressão de grupo como um fator importante para o início do uso de drogas, não é aconselhável que este tema seja abordado diretamente. Use estratégias criativas, principalmente dando voz aos alunos que veem os possíveis “benefícios” que as drogas podem trazer e preferem escolher outras formas de alcançar esses “benefícios” (descontração, relaxamento, sentir-se parte da “turma”, ter coragem de paquerar).