“À mãe de um dependente químico”

* Por Anderson Amaral

Quando fiquei grávida, eu não tinha a dimensão do desafio que me aguardava. A alegria da notícia da gravidez, o prazer pelo dom de ser mãe, eram muito maiores do que qualquer pensamento que pudesse contrariar tamanha alegria. Eu sabia que ser mãe não ia ser fácil. Na verdade eu só imaginava. Saber mesmo, só na prática.

Não me arrependo por ter dado abertura ao dom da vida, porém, nunca poderia imaginar que um dia, o meu filho, aquele que carreguei nos braços, que cuidei, que amamentei, que troquei as fraldas com tanto carinho e a quem transmiti os melhores valores, se envolveria numa vida desregrada, louca, e entregue às drogas.

Quis não acreditar no que estava acontecendo. Iludi a mim mesma, tentando pensar que não estava acontecendo comigo. E quando realmente assumi a verdade de que meu filho havia se tornado um usuário, pensei ter o poder de resgatá-lo com as minhas forças, com meu amor de mãe. Tentei quase tudo para que meu filho enxergasse a escuridão em que se encontrava e buscasse o caminho da luz. Me percebi fraca, impotente, lutando sozinha e sem solução.

Somente quando admti a minha impotência e reconheci os meus limites, me conscientizando de que meu filho é um ser único, cheio de vontades, e nesse momento da sua vida, adoecido pela dependência química, vi também, que não tenho o “poder“ de controlá-lo. Meus recursos são limitados: recursos físicos, materiais, financeiros, psicológicos, emocionais, e até mesmo espirituais.

Foi nessa hora, quando aconteceu esse meu “despertar”, que me descobri também adoecida, codependente, e pedi ajuda, não para o meu filho, embora ele necessite. Mas pedi ajuda para mim, pois “aceitei” que eu não preciso ser forte o tempo todo. Que mãe não é sinônimo de solução para todos os problemas, mãe não consegue resolver tudo sozinha, mãe também sente, também chora, também adoece. E por tudo isso, MÃE também cuida de si, e se ama.
Mãe ama a todos, especialmente seus filhos, e seu amor se dilata, não cabe em si mesma. Mas hoje, como mãe, eu sei, que só sou capaz de amar intensamente, com qualidade, e com um amor-exigente, à medida que me amo verdadeiramente, e ao Deus que habita em mim!

Anderson Luiz Amaral Gomes, palestrante do Freemind, é Presidente da Associação Divina Misericórdia, de São João Nepomuceno/MG e há 15 anos trabalha na área de dependência química e prevenção às drogas. Tendo ouvido as histórias de muitas mães sofridas pela dependência química de seus filhos, escreve esse belíssimo texto à todas as mães de depenmdentes químicos em sua página do Facebook: “Cultura de Prevenção com Andersom Amaral”, uma página para promover a Cultura da Prevenção ao uso de drogas, para informar e orientar usuários, famílias e pessoas interessadas no tema.

Fonte: https://www.facebook.com/culturadeprevencao/posts/1124989507625178