A família como fator de risco para o uso de drogas pelos filhos

Nas duas últimas décadas do século XX e na atualidade, o trabalho de prevenção de drogas vem passando por processo de evolução de um modelo cujas ações e diretrizes, anteriormente centradas no tratamento e na internação (um problema médico), intervencionista e repressor (um problema jurídico), para o enfoque na educação e saúde, com valorização da vida e participação da família.

Nessa perspectiva, a família, como instituição cuidadora de seus membros e responsável pela transmissão de valores éticos e morais, é de indiscutível relevância como instituição capaz de contribuir para a prevenção frente aos inúmeros problemas acarretados pelas drogas.

Diferentes são os arranjos que influenciam a convivência, os hábitos e os costumes da família. Sendo assim, é fundamental na constituição do indivíduo a forma como ele é criado pela família, estando a cargo dos pais, principalmente, a proteção contra os fatores de risco relacionados às drogas.

Da mesma forma que a família é o pilar da construção de vínculos saudáveis entre seus membros, as famílias disfuncionais podem conduzir normas desviantes pela forma de comportamento dos responsáveis para com seus filhos. Tais distúrbios ocorrem na maioria dos casos nos quais carecem de habilidades para a criação dos filhos, reduzindo as possibilidades de difusão de fatores protetores.

Num estudo* realizado com 22 mães de uma comunidade situada no município do Rio de Janeiro, em 2006, quando questionadas sobre a influência da família no uso e abuso de drogas pelos filhos, quinze (15) das vinte e duas (22) mães entrevistadas, apontaram como fator de risco a utilização de drogas entre os membros da própria família, que banalizam o uso e se eximem das responsabilidades, na medida em que não conversam com os filhos sobre os riscos envolvidos.

Constata-se que o acesso às informações, a estrutura familiar protetora e a existência de laços afetivos entre pais e filhos são razões importantes para a negação e afastamento dos jovens das drogas. No entanto, mesmo ao se enfatizar informações completas com relação às consequências do uso e abuso de drogas, o consumo de drogas por algum membro da família pode predispor o uso pelos demais, principalmente no que se refere a crianças e adolescentes.

Assim, o risco para o consumo de drogas se agrava, quanto mais desengajada é a família em suas relações interpessoais. Como os filhos valorizam o comportamento dos responsáveis, transformando-os em espelhos para sua formação, o ambiente familiar é parte importante na determinação do uso de drogas pelas futuras gerações.

Fonte: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762008000200003