Efeito do Casamento no Risco de Início do Transtorno por Uso de Álcool

Um estudo realizado na Suécia com 72.252 indivíduos que preencheram os critérios para transtorno por uso de álcool, com uma idade média no primeiro registro de 27 anos, buscou esclarecer a natureza e as causas da associação entre estado civil e risco para o surgimento de transtornos por uso de álcool. Alguns achados e conclusões deste estudo:

Foi descoberta uma associação entre o estado civil e o risco para o início do transtorno do uso de álcool. A associação foi forte, com homens e mulheres casados ​​tendo, respectivamente, um risco 60% e 71% menor para o início do transtorno de uso de álcool em comparação com os indivíduos que permaneceram solteiros. Isto é consistente com evidências anteriores: adultos jovens que permanecem solteiros apresentam maior incidência de sintomas de transtornos por uso de álcool (razão de risco = 2,1) em comparação com aqueles que se casam; o fato de ser casado está associado à redução do risco para o início do transtorno do uso de álcool; e que se casar está associado a reduções no consumo pesado. Os achados também são congruentes com evidências de que o casamento reduz o risco de outros comportamentos externalizantes, incluindo crime e abuso de drogas.

Outro ponto estudado buscava saber até que ponto o efeito protetor do casamento sobre o risco de transtorno do uso de álcool em um indivíduo depende da história do transtorno do uso de álcool em seu cônjuge. Os resultados mostraram que enquanto o casamento com um cônjuge sem registro vitalício para transtorno por uso de álcool era fortemente protetor, o casamento com um cônjuge afetado aumentou significativamente o risco de transtornos futuros no uso de álcool. Estes resultados fornecem uma visão sobre a natureza do efeito protetor do casamento no risco de transtorno por uso de álcool. Se as expectativas do papel social fossem o componente crítico do casamento que reduzisse tal risco, então o casamento com um cônjuge abusador de álcool deveria permanecer protetor. O fato disto não aparecer nos resultados do estudo sugere que a interação direta do cônjuge é mais crítica. Isso seria consistente com a posição articulada por estudiosos de que “o casamento pode ser benéfico para a saúde porque muitos esposos monitoram e tentam controlar os comportamentos de saúde de seus cônjuges”.

O estudo também buscou responder se os indivíduos com alto risco familiar para o transtorno do uso de álcool tinham uma sensibilidade diferente aos efeitos protetores do casamento do que aqueles sem esse risco. Como esperado, foi encontrado um efeito principal substancial daqueles com história familiar positiva com maior risco de transtorno por uso de álcool. Mais interessante, foram encontradas evidências robustas de que os efeitos protetores do casamento eram mais fortes naqueles com histórico familiar em comparação com aqueles sem. Esse efeito é consistente com as descobertas recentes de que bebedores problemáticos severos mostram a maior queda no consumo de álcool após a transição para o casamento. Aqueles com maior risco de problemas com álcool parecem ser os mais propensos a se beneficiar dos efeitos protetores do casamento.

Por fim, devido à sua grande amostra de base populacional, este estudo teve um bom poder para investigar se a associação entre estado civil e risco para transtornos por uso de álcool diferia entre os sexos. O impacto da história familiar e a interação entre a história familiar e o estado civil no risco de transtornos por uso de álcool foram similares em homens e mulheres. Embora tenha sido sugerido que os homens podem ser mais sensíveis aos fatores de relacionamento do que as mulheres, não foram encontradas evidências disso no presente estudo.

Em resumo, o primeiro casamento com um cônjuge sem histórico de registro para transtorno de uso de álcool está associado a uma grande redução no risco de transtorno por uso de álcool. Os efeitos protetores do casamento no risco de transtornos relacionados ao uso de bebidas alcoólicas tendem a surgir em grande parte das interações diretas do cônjuge, e são mais fortes em indivíduos que apresentam um risco familiar elevado de alcoolismo. Embora os efeitos causais sejam difíceis de provar em dados observacionais, os resultados são consistentes com a hipótese de que os aspectos psicológicos e sociais do casamento protegem fortemente contra o desenvolvimento do transtorno do uso de álcool.

Acesse o estudo na íntegra em: https://ajp.psychiatryonline.org/doi/10.1176/appi.ajp.2016.15111373