Adolescentes bebem livremente em blocos de rua do carnaval de São Paulo

Impossível não se contagiar com o clima de folia que tomou conta de São Paulo com a expansão do Carnaval de rua. Mas não foi preciso gastar muita sola de sapato para ver também que teve gente atravessando o samba. Por todo o circuito de blocos, menores de idade transitavam livremente com bebidas alcoólicas. Cenas de exageros e de jovens passando mal parecem cada vez mais comuns. A reportagem do UOL esteve em diferentes pontos da cidade durante o fim de semana de folia e constatou que, tanto na venda quanto no consumo, o descontrole é um fato. Assim como a omissão das autoridades.

Receita do caos

“O modelo atual do Carnaval de rua em São Paulo é a receita do caos”, define a pesquisadora e professora do departamento de medicina preventiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Zila Sanchez. O crescimento dos blocos de rua acaba aumentando e facilitando para menores de idade o acesso a bebidas alcoólicas, observa a especialista que estuda o problema há 20 anos. “O adolescente vai fazer uso quanto mais fácil for obter a bebida.” Segundo ela, a facilidade de acesso, que se intensifica atualmente com os blocos de rua, não existia há poucos anos. “Só era possível beber em alguma balada fechada, onde necessariamente tinha que apresentar documento”. Do ponto de vista da saúde pública a situação é grave, salienta a pesquisadora. “A grande discussão neste momento deve ser sobre esse aumento da acessibilidade sem nenhuma medida de controle para impedir ou reduzir o consumo de álcool pelos adolescentes”. E os impactos para a saúde dos jovens são muitos, alerta Zila. “Quanto mais cedo ele começar a beber, maior a chance dele se tornar dependente na idade adulta”. O álcool decorrente da ingestão precoce traz no futuro um combo de problemas, prossegue a pesquisadora. “Está associado a diversos tipos de câncer, por exemplo.”

Mas ainda na adolescência os problemas associados ao abuso de álcool não são poucos, lembra Zila. Vão dos mais óbvios, como se expor a comportamentos sexuais de risco, até os menos visíveis de imediato, caso, por exemplo, dos prejuízos neurocognitivos. “Compromete muito o desenvolvimento, nesta fase da vida sistemas nervosos estão ainda em formação, por isso é afetado de maneira mais intensa do que se comparado a um adulto.”

Fonte: https://noticias.uol.com.br/reportagens-especiais/adolescentes-bebem-livremente-nos-blocos-de-sao-paulo/index.htm?utm_source=facebook&utm_medium=social-media&utm_campaign=uol&utm_content=geral#veja-tambem