Carnaval é sinônimo de festa, glitter, fantasia, feriado, e infelizmente… muito consumo de álcool e outras substâncias químicas.
Conforme crescemos e começamos a curtir essa época de festa, o consumo de álcool de modo abusivo é quase imposto e é muito difícil encontrar grupos de jovens que não gostem de beber ou que prefiram passar esses dias fazendo outra coisa que não “encher a cara”.
Momentos com muitos amigos tomando bebidas de baixa qualidade e em grande quantidade, usando outros tipos de drogas e perdendo a consciência e o controle são mais comuns do que gostaríamos.
O curioso é que isso traz um monte de problemas diferentes, mas como é carnaval as pessoas quase aceitam e seguem a vida achando que “enquanto é jovem deve aproveitar mesmo”. Mas o que é esse aproveitar?
Durante o carnaval o número de acidentes de carros com fatalidade aumenta em até 30%. E mesmo após a Lei Seca, mesmo após inúmeras campanhas de conscientização, em uma pesquisa feita no Nordeste, Meca dos foliões, o resultado foi de que 25% dos motoristas dirigem ou já dirigiram alcoolizados. Com certeza a pesquisa vale para outras regiões do país também. O triste é que essas pessoas não colocam em risco apenas a própria vida, mas a de outras pessoas que muitas vezes não tem nenhuma ligação com o motorista. Se pesquisarmos no Google “morte de mãe em transito” ou “morte de filhos em transito”, o número de artigos é assustador. São inúmeras vidas e famílias perdidas pela irresponsabilidade do motorista.
Durante o carnaval também, os prontos-socorros recebem mais gente, inclusive durante a madrugada. Dos incidentes mais comuns, um deles é o coma alcoólico, que pode deixar sequelas e até levar à morte. Em 2018, 80% dos atendimentos dos postos médicos de Belo Horizonte durante o carnaval foram por causa de coma alcoólico! É um percentual muito alto. A que ponto nossos jovens querem chegar? Quem está olhando por eles?
E quem não lembra dos famosos “bebês de carnaval”? Modo de se referir à uma gravidez resultante de prática sexual sem proteção. Durante as festas, a prática de sexo desprotegido pode trazer, em um final feliz, mais um bebê desejado para a família. Mas esse não é o resultado de muitas jovens. E para as novas mamães que não vão ter o apoio do pai do seu bebê, para as meninas e mulheres vítimas de estupro e gravidez por estupro? Para as mulheres que se permitiram curtir uma festa com uma pessoa que não conheciam e acabaram grávidas? Sim, claro que é responsabilidade mútua, e que há muitos outros métodos de contracepção, mas sabemos que nem sempre esse discurso funciona. Não estou falando em moral, apenas em responsabilidade com a sua saúde e com o seu futuro.
Além de uma gravidez indesejada, que pode levar a um aborto clandestino, um ato de extrema dor (física e emocional), feito sem suporte médico e colocando em risco a vida da mãe também, as DSTs estão por aí e podem bater na porta de quem não se proteger. AIDS, Sífilis e Gonorréia tiveram crescimento nos últimos anos. Então alguém está esquecendo de falar sobre sexo protegido. Esquecendo de conversar com nossos meninos e meninas, com nossos jovens que escolhem, por falta de informação ou não, girar a roleta e esperar para ver o resultado.
Parece que temos, por enquanto, motivos o suficiente para fazermos um carnaval sóbrio não é mesmo?
Ah, mas não pode nem um pouquinho? É tão legal, todo mundo em festa, cerveja gelada, churrasco, ir atrás do trio tomando catuaba….. Deixa vai!
Deixo. A escolha é sua. Mas antes deixa eu te contar uma coisa.
Para o alcoolista não pode nem um pouquinho. Para o Dependente Químico não pode nem um pouquinho. Para os familiares destes não pode nem um pouquinho. Por que? Porque ser um adicto é uma doença, reconhecida mundialmente, com número de CID e tudo.
Sim, CID é código para Classificação Internacional de Doenças, criado pela Organização Mundial da Saúde. CID 10 é a “casa” aonde estão os transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substâncias psicoativas.
Portanto olhe para seu amigo que bebe um pouco além da conta, para o tio que sempre exagera, para a tia que sempre está com a garrafa de “mé” na mão, para aquela menina que sempre sai carregada das festas, ou seja corajoso e olhe para o espelho e pense se você realmente precisa dessas substâncias para ter um carnaval legal. E entenda, que é possível que uma das pessoas que você mais ame, ou a pessoa que você mais ama (você mesmo) pode estar doente e não quer admitir, não consegue enxergar. Se precisar, fale com alguém e busque ajuda.
A primeira maneira que temos para ajudar um adicto é dizer não. Não ao álcool. Não às drogas. Não ao sexo desprotegido. Não às mortes causadas por intoxicação.
Sim à vida. Sim à transformação. Sim à alegria. Sim à música. Sim à amizade. Sim à apoio mútuo. Sim à festa. Sim à sobriedade.
Texto de Ana Lucia Ayrosa Galvão Ribeiro Gomes
Fonte: https://www.ctdespertar.com/post/jovens-carnaval-e-o-abuso-permitido-e-velado