Um estudo inédito do Ministério da Justiça revelou a presença crescente dos nitazenos, opioides sintéticos extremamente potentes e perigosos, no mercado ilícito brasileiro.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) apresentou em Brasília no dia 24 de janeiro de 2025, um estudo inédito sobre os nitazenos, uma classe de opioides sintéticos altamente potentes, com risco elevado de overdose. A publicação, intitulada “Nitazenos: Caracterização e Presença no Brasil”, compila dados nacionais e internacionais sobre essas substâncias, que vêm sendo identificadas em apreensões realizadas no país.
A Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), Marta Machado, destacou que, embora a disseminação dos nitazenos ainda não seja ampla, a potência dessas substâncias e seus efeitos preocupantes exigem monitoramento constante para evitar uma escalada do problema.
O objetivo do estudo é fornecer dados científicos para embasar políticas públicas voltadas à prevenção, redução de danos e combate à circulação desses opioides sintéticos no Brasil.
Medidas de monitoramento e cooperação internacional
Além das ações já implementadas, como o Subsistema de Alerta Rápido sobre Novas Drogas (SAR) e o fortalecimento do Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid), a Senad anunciou novas iniciativas, incluindo o Programa Nacional de Integração de Dados Periciais sobre Drogas (PNID), em colaboração com a Polícia Federal, e uma parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), voltada ao suporte a países que ainda não possuem sistemas estruturados de alerta sobre novas drogas.
O estudo foi desenvolvido pelo Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário (Cdesc), em cooperação com a Senad, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e o UNODC. Com base em uma ampla revisão de literatura e em dados de laboratórios forenses e instituições de saúde, o relatório busca mapear a presença e o impacto dos nitazenos no país.
A coordenadora do Pnud, Andrea Bolzon, ressaltou a importância de identificar ameaças emergentes antes que se tornem crises de saúde pública.
Apreensões e presença no Brasil
O levantamento indica que as apreensões de nitazenos no Brasil têm se tornado mais frequentes. Entre julho de 2022 e abril de 2023, a Polícia Civil de São Paulo encontrou nitazenos em 95% das amostras analisadas (133 de 140 casos).
Os estados de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, além da Polícia Federal, já registraram a presença dessas substâncias, com o metonitazeno sendo a variante mais comum encontrada, frequentemente misturada a materiais vegetais secos, sugerindo uso por inalação.
O estudo também aponta que a circulação dos nitazenos pode estar concentrada na região Sul-Sudeste e recomenda a adoção de medidas coordenadas para enfrentar essa nova ameaça.
O diretor técnico-científico da Polícia Federal, Carlos Eduardo Palhares Machado, enfatizou a necessidade de fortalecer a produção de informações baseadas em evidências para subsidiar políticas públicas eficazes no combate às drogas.
Tendência global e impactos na saúde
Desde 2019, países como Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Estônia, Letônia, Reino Unido e Suécia vêm registrando novas variações de nitazenos.
A diretora do UNODC no Brasil, Elena Abatti, destacou que esses opioides sintéticos ganharam notoriedade devido ao alto risco de overdose, parada cardíaca e dependência severa. Para ela, compartilhar conhecimentos científicos é fundamental para mitigar os impactos dessa ameaça crescente.
O que são os nitazenos?
Os nitazenos são opioides sintéticos pertencentes à classe dos derivados do 2-benzilbenzimidazol. Desenvolvidos originalmente na década de 1950 como potenciais analgésicos, nunca foram comercializados devido ao elevado risco de abuso e overdose.
A potência dessas substâncias pode ser centenas ou até milhares de vezes superior à da morfina, o que aumenta drasticamente o risco de efeitos adversos graves.
Seis compostos desse grupo já são controlados internacionalmente pela Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961, incluindo butonitazeno, etazeno, etonitazepina, protonitazeno, metonitazeno e isotonitazeno.
Diante desse cenário, as autoridades reforçam a importância de medidas preventivas para evitar a ampliação do uso dessas substâncias no Brasil.
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