O reconhecimento da dependência de drogas como uma doença foi o foco de um painel de discussões na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, na quinta-feira, 24/01/2019. O evento “Sem deixar ninguém para trás: a epidemia de opioides como um desafio global” foi organizado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) para destacar o crescente problema de dependência em todo o mundo.
“Tratar dependência como algo criminoso é contribuir para esta crise global”, disse a diretora do Instituto Nacional dos Estados Unidos sobre Abuso de Drogas, Nora Volkow. Ela relembrou a importância de reconhecer o problema de drogas “a partir da perspectiva do sistema de saúde”.
“Quando entendemos que pessoas estão doentes, o estigma vai embora, e nós sabemos o que fazer, nós as tratamos com compaixão e damos a elas o melhor tratamento que podemos”, acrescentou David Sheff, escritor best seller e ativista que se tornou especialista na crise internacional de opioides, uma grande emergência de saúde pública nos Estados Unidos.
De acordo com o relatório mais recente World Drug Report, publicado pela agência da ONU em 2018, o uso não médico de medicamentos prescritos está se tornando uma grande ameaça à saúde pública e à aplicação da lei em todo o mundo, com opioides causando o maior dano e representando 76% das mortes associadas ao uso indevido de drogas. Destacando a importância de entender a “química cerebral” e o papel da educação em prevenção, Sheff acrescentou que “grande parte da decisão de uso de drogas vem do estresse”, que pode ser resultado de muitos fatores, incluindo discordâncias familiares, pressão na escola ou violência, mas também simplesmente o estresse diário do crescimento.
Analisando as faixas etárias mais vulneráveis, o relatório do UNODC indica que uso de drogas é mais alto entre jovens, com pesquisas sugerindo que pessoas de 12 a 17 anos de idade estão em risco particular.
Seu livro “Querido Menino: A Jornada de um Pai pela Dependência Química de seu Filho”, no qual compartilha a experiência desoladora de sobrevivência, recaída e recuperação de seu filho Nic, foi recentemente transformado em filme, exibido na quarta-feira (23) na sede da ONU. Sheff afirmou que a ideia de que uma pessoa precisa praticar “amor rigoroso” para ajudar alguém que lida com dependência é uma ideia “que é perigosa, porque as consequências podem ser terríveis, incluindo morte”. “Vamos intervir assim que pudermos”, pediu, destacando que uma série de tratamentos agora está disponível, diferentemente de 10 ou 15 anos atrás.
Também estava presente no debate Vicky Cornell, cofundadora da Fundação Chris e Vicky Cornell e esposa do falecido ícone do rock Chris Cornell. Desde a morte de seu marido, em maio de 2017, Vicky se tornou especialista e ativista sobre abuso de drogas, destacando a importância de acabar com ideias erradas sobre o que é “uma doença totalmente evitável e tratável”.