Jovens do último ano do Ensino Fundamental ou Ensino Médio passam o ano planejando o que farão no ano seguinte e como será “a separação”. Com a cabeça a mil, muitas dúvidas inquietam essas crianças e adolescentes: provas finais, vestibulinhos, vestibulares, qual profissão escolher e como será a festa e/ou viagem de formatura…
Nesse caldeirão de sentimentos, com cérebros ainda em formação, os questionamentos não são poucos. Entre eles, certamente: “E aí, o que vamos beber na festa?”. Essa é uma idade perigosa, pois mesmo sem idade legal para beber, eles já se acham experientes e imaginam que tem pleno domínio de si mesmos.
Não importa que tipo de bebida haverá na viagem ou na festa de formatura: refrigerante, água, cerveja, vodca, energético, suco. Independente da escolha, essa é uma época em que o diálogo entre pais e filhos deve ser reforçado e essa é a melhor maneira de evitar excessos.
Afinal, segundo o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), publicado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em 2012, metade dos brasileiros entrevistados disse ter provado bebidas alcoólicas entre 12 e 14 anos e 41% entre 15 e 17 anos.
É um desafio tratar esse assunto, porque muitos pais são responsáveis diretos por esse tipo de comportamento, financiando e comprando a bebida. Embora fatores sociais e históricos sejam bastante relevantes, há uma ideia muito difundida entre os pais de que “não dá nada” beber. Essa concepção chega aos filhos, que se sentem autorizados.
O que mais se ouve é: “meu filho é consciente, sabe os limites dele”, mas isso não é verdade. Adolescentes não estão neurologicamente preparados para isso e, por mais que sejam informados, a maioria não se convence. São os responsáveis, os adultos, que não podem deixar que eles se excedam!
Comportamento complexo de lidar, beber nesta fase não é um problema novo. Há experimentação de álcool na adolescência desde sempre, é uma curiosidade natural. Mas a percepção de professores e líderes de escolas é de que está mais descarado, os jovens estão pouco preocupados com qualquer coisa que não seja a diversão.
Para Clarice Madruga, uma das coordenadoras do Lenad e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é necessário jogar limpo com o adolescente, de forma precisa, com evidências. E há um corpo abundante de pesquisas científicas mostrando que o abuso do álcool antes dos 20 anos faz muito mal ao cérebro e aumenta a vulnerabilidade para desenvolver depressão, transtornos de ansiedade e dependência química na vida adulta.
“O fato é que a tolerância ao álcool ainda não está estabelecida nesta idade e, assim, o adolescente vai se expor a riscos. As explicações devem ser baseadas em fatos, pois é uma geração capaz de ler um artigo científico e entender se estamos certos ou não”, defende Clarice.
A escola também pode ajudar a conscientizar durante o ano, mas é preciso que os pais ajudem nesse engajamento pela conversa ao longo de todo o crescimento dos filhos, não tentando apenas reprimir antes da festa.
Os adolescentes devem ter maturidade para decidir as coisas e fazer escolhas saudáveis e isso deve começar na educação infantil, ao se trabalhar com limites. Compreender os anseios dessa geração, estar presentes e sempre interagindo com de seus filhos, quebrar tabus e, sobretudo, conversar abertamente são atitudes que terão muito mais êxito do que a simples repressão.