Palavra do Idealizador da Mobilização Freemind – Dedé Martelli fala sobre A Família, o Dependente e a Força da Fé para Vencer
Na esteira da espiritualidade que falei na semana passada ao nos referir ao Frei Hans e à Fazenda da Esperança, quero aproveitar a palavra desta semana para falar sobre a fé na luta contra a dependência química, não apenas do dependente, mas também de sua família.
A dor daqueles que vencidos pelo vício se entregam às drogas, mesmo sabendo que essa escolha não é a melhor, é algo difícil de descrever.
Ser vencido pela fraqueza e não ter condições de dizer “não” é algo que machuca o coração, o corpo e a mente daquele que, abatido, se entrega a uma escolha que sabe que não deveria e causa um sentimento muito triste.
Ter a consciência de que essa escolha afeta sua vida e daqueles que ama e não poder dizer “não” é uma derrota que aniquila o espírito e alma daquele que faz essa escolha.
Os sentimentos controversos, o orgulho aguçado, a vontade de fugir da realidade e a autossuficiência, entre outras características, estão presentes nos dependentes químicos.
Importante que se diga que muitos que não convivem com esse problema acreditam que o dependente não liga e não se importam com sua família, mas o que aprendi com a convivência com muitos deles, é que isso não é verdade. Como se importam e como sofrem, repetidas vezes, a cada dia que a droga fala mais alto!
Muitos, na verdade, desejam que suas famílias desistam dele, pois dessa forma acreditam que ao desistir e se afastando eles sofrerão menos.
O morador de rua que encontrei numa madrugada na rua e que inspirou o Freemind fez, naquela noite, uma defesa enfática de sua família, dizendo que ele havia desistido dela e não ela dele. Falou muitas vezes sobre a perfeição dela e que se soubessem onde ele estava, estariam ainda lutando por ele. Estar longe deles era como liberá-los da dor.
A relação entre o dependente e sua família é sempre carregada de dor, de culpas, de sentimentos contraditórios e muitas vezes o ódio e a raiva assumem protagonismo. A decepção se torna frequente a cada recaída e viver com ela se torna cada vez mais difícil.
Aprendi com o tempo que nem sempre a família é vítima e, nem sempre é algoz. Ela normalmente está adoecida também. Entender isso é fundamental.
No primeiro Freemind, a carta da unidade lida no final do Congresso e que foi escrita em Tatuí, diante do Santíssimo Sacramento exposto na Comunidade Recado, teve um trecho em que citamos as famílias e que transcrevo abaixo:
“Mas se a Droga chega aos filhos pelos traficantes, se faz necessário ter coragem de assumir que antes disso, o egoísmo, a vaidade, o orgulho, o distanciamento entre pais e filhos, a falta de cooperação e a desunião, muitas vezes, leva as famílias a se descuidarem, deixando que seus filhos sejam presas fáceis para as Drogas. Grande parte das famílias, também adoecidas, precisam de ajuda e com fé, força e esperança, devem assumir seu papel, fazendo prevenção e protegendo seus filhos. Nada previne mais a dependência de Droga do que a presença ativa dos pais na vida de seus filhos.”
É difícil julgar quando se está de fora, mas entender que cada UM DE NÓS pode cuidar da sua família de forma a prevenir e evitar, é muito mais fácil do que remediar depois.
Mas se chegamos a essa dor, é fundamental que tanto o dependente quanto sua família precisam acreditar na força da Fé.
Nela podemos criar forças para aceitar com resignação aquilo que não podemos evitar.
Nela podemos encontrar o AMOR necessário para acolher aquele que fraqueja e que acaba nos atingindo.
Nela podemos encontrar a esperança necessária para saber que lá na frente haverá uma saída.
Nela podemos ter discernimento para poder perceber o peso de nossas escolhas.
Nela podemos encontrar a força para, com serenidade, juntar os cacos quando necessário.
É preciso colocar Deus na nossa vida e crer que a fé pode, mesmo no momento da fraqueza, nos fazer sentir o ardor do arrependimento e encontrar a sabedoria necessária para poder escolher o melhor caminho a seguir.
O principal sentimento que permeia o dependente e suas famílias quase sempre é o MEDO. Ele amarra, enfraquece e deixa uma paralisia robusta que nos impede muitas vezes de seguir em frente.
É necessário vencer o MEDO. Tantos os dependentes como suas famílias e, a única forma de vencê-lo é a FÉ.
Quanto mais Fé, menos medo.
Quanto menos medo mais força.
Quanto mais força mais esperança.
Quanto mais esperança mais AMOR
Como dizia Padre Haroldo: MEDO de Nada, só AMOR.
Como ele sabia o que falava!