Palavra Semanal do Idealizador da Mobilização Freemind – Dedé Martelli fala sobre: A ORAÇÃO, O PADRE E A MOLA PROPULSORA
Era um sábado de manhã ensolarado. Cheguei pela primeira vez à instituição Padre Haroldo por volta de 9 horas da manhã, o horário marcado pelo Carlos para que eu encontrasse o Padre Haroldo. Com franqueza, eu não tinha a real dimensão de quem era ele no setor, até porque eu não era alguém que conhecia o tema. O que sabia era o pouco que eu li, na noite anterior, antes de procurá-lo. Dentro da lógica, o que eu poderia falar para alguém quase centenário e que há quase 60 anos vivia no meio, que pudesse convencê-lo a me ajudar.
Ao desligar o computador na noite anterior, percebi que eu poderia falar muito pouco sobre o tema. Como tudo que fiz desde o início era ancorado na oração, deixei de planejar e apenas rezei e pedi que o Espírito Santo me conduzisse.
Instruído a ir até a “casa do Padre” pelo garoto que estava na portaria, fui orientado a esperá-lo num banco na porta, uma vez que ele ainda não estava lá. Banco esse que foi, durante muitos anos, o palco de nossas conversas quase semanais.
Enquanto aguardava, um outro jovem veio até mim e, com um certo cuidado, sugeriu que eu puxasse o carro um pouco mais para a frente, pois o Padre chegava ali e poderia ser perigoso “bater” no meu. E então eu pensei assim: Meu Deus, nessa idade ele ainda dirige? Mal sabia eu que dirigir nem era o mais surpreendente que Padre Haroldo fazia. Pude vê-lo pela primeira vez ao descer do seu celta preto e, pela velocidade que chegou, pude entender o jovem quando sugeriu que eu puxasse o carro para a frente.
Me apresentei, Padre Haroldo me convidou a entrar na sua casa e sentamos na mesa para poder conversar um pouco. Já havia decidido na oração da noite anterior que iria basear minha fala a ele na narrativa da noite que passei com o morador de rua e relatar o desejo de ajudar. Decisão essa que foi confirmada na passagem que fiz ao Santíssimo, na capela do lado da casa dele, dentro da Instituição. Local que também se tornou frequente para mim por anos, mesmo quando Padre Haroldo não estava lá.
A oração e a comunhão se tornaram um pilar importante para nós do Freemind desde o início. No grupo que formamos desde o início tinha um dos membros – cuja escolha se deu pelo fato de ter na comunidade que ele representava e que havia fundado, e que aqui terá um capitulo futuro a parte, um grande amparo oracional e que funcionava já, desde antes dessa visita ao Padre como um suporte “estratégico” de intercessão. Falo do Luiz Carvalho, pai fundador da Comunidade Recado.
Se Luiz Carvalho era o pilar da oração até então, a comunhão entrou naquele dia pelas mãos do próprio Padre Haroldo, que ao final daquele dia me ofereceu comungar. Gesto que se repetiu por anos enquanto ele estava entre nós. Eu e o Paulo, nos habituamos a passar por lá e sempre buscar nele e na sua “caixinha” a força da Eucaristia. Força que mais adiante me inspirou a ideia de ter, dentro do Congresso (que naquela manhã ainda nem existia) um Santíssimo Sacramento exposto com oração constante. E em nosso primeiro Congresso, após autorização do bispo, isso ficou como responsabilidade da Aliança da misericórdia, de Padre João Henrique e Padre ANTONELO, que também terão aqui um capítulo especial para eles.
Voltando ao Padre Haroldo, fiz como estava previsto e passei grande parte da nossa conversa falando sobre aquela madrugada. Contei cada minuto daquilo e, como ainda acontecia sempre, me emocionei muito ao falar. Padre Haroldo era um ótimo ouvinte, mesmo com sua dificuldade física em ouvir, e naquela manhã pude sentir sua sensibilidade e, principalmente, sua simplicidade e objetividade nas poucas e breves perguntas que fez. Uma delas me chamou muito a atenção e colocou sobre mim uma responsabilidade de virar a chave e que foi a mola propulsora para sermos obrigado a dar o próximo passo. Ele me perguntou se havia dinheiro para reunir umas pessoas do Brasil inteiro em Campinas para poder ouvir essa história e poder compartilhar com eles o que fazer. Perguntei quantas pessoas e ele me respondeu de forma simples e direta: cinquenta. A ideia era fazer uma reunião durante o final de semana, lá mesmo, onde eu poderia expor a eles tudo o que eu tinha falado com ele, com o acréscimo, é lógico, de uma proposta, o que até aquele momento eu ainda não tinha. Percebi que da narrativa era necessário ir mais adiante.
Nossa conversa terminou comigo mostrando ao Padre minha lista (aquela do guardanapo) e perguntando se ele poderia me ajudar a falar com algumas daquelas pessoas. Ele leu como se não desse muito importância a ela e sugeriu que eu não me preocupasse, pois todos eles, e mais alguns estariam ali naquele final de semana.
Ao olhar para mim de maneira terna e amorosa, Padre Haroldo me disse que iríamos fazer grandes coisas e que bastava termos fé.
Simples, objetivo, amoroso e verdadeiro, Padre Haroldo parecia sentir o que eu sentia e mostrou algo muito importante para mim e que foi fundamental em toda trajetória inicial do Freemind: ele não nos julgou, apenas acreditou.
Ao se despedir de mim naquela manhã, já perto da saída ele me olhou nos olhos com muita profundidade e suas últimas palavras naquela manhã foram: ”Bendito seja o Espírito Santo que existe em você. Escute-o e tudo dará certo”.
Aquele dia não só garantiu o nascimento do Freemind como também mudou minha vida. Vida esta que foi uma antes e foi outra depois de conhecer Padre Haroldo. Sinto muitas saudades dele, de seus conselhos e sua maneira simples de ver as coisas.
Entrei naquela manhã na instituição Padre Haroldo sem muita ideia do que fazer e sai de lá do mesmo jeito, mas com a certeza que era necessário fazer e deveria ser logo. Agora não tinha mais volta. Era fazer, fazer e fazer. Afinal ele ia fazer uma reunião com todos do guardanapo, e mais alguns e nela, era necessário que nós apresentássemos algo. De uma maneira bem gentil, Padre Haroldo colocou uma pressão sobre nós. E ela foi a mola propulsora para sairmos do sonho.
A ele nosso muito obrigado.
A Deus toda honra e glória