Conheça o Projeto “Balada com Ciência”

O surgimento da ideia:

Não dá para negar: muita coisa acontece na balada! Algumas legais e outras nem tanto… Algumas decisões tomadas sob o efeito do álcool e outras drogas podem ter implicações para o resto da vida. Outras, nem tanto…

Achados internacionais mostram que o excesso de ingestão de bebidas alcoólicas e outras drogas nas casas noturnas e bares está associado a mais episódios de agressão física, comportamento sexual de risco, violência sexual e acidentes de trânsito. No entanto, a boa notícia é que todos estes riscos são minimizados quando a quantidade de doses de bebidas alcoólicas e outras drogas consumida é reduzida.

Assim, em diversos países, desenvolver um ambiente de lazer noturno seguro se tornou sinônimo de reduzir o consumo excessivo de álcool e outras drogas e, indiretamente, a violência, os acidentes e até mesmo a contaminação por DST/AIDS. Apesar de beber ser uma decisão individual, expor outras pessoas a riscos decorrentes do beber é um fenômeno social visto que pode afetar outras pessoas, não somente aquele que bebeu.

Diversos programas de prevenção visam diminuir os riscos individuais e coletivos da “noitada”. No entanto, para serem desenvolvidos precisam estar alicerçados na realidade local. Por exemplo, o maior problema de meninas que cruzam a fronteira de San Diego (EUA) e Tijuana (México) para ir à balada e beber antes de completar 21 anos, é a violência sexual. Neste caso “beber e dirigir” deixa de ser o problema, pois muitas cruzam a fronteira a pé. Já em diversas cidades canadenses, a questão são os episódios de brigas/pancadaria, muitas vezes iniciados pelo próprio staff do estabelecimento. E no Brasil, quais são os riscos mais presentes nas baladas? Como podemos tornar a noite mais saudável e, consequentemente, mais segura para os “baladeiros” e para a balada?

Neste contexto, o projeto “Balada com Ciência” visa compreender o cenário do lazer noturno na cidade de São Paulo, com enfoque no consumo de álcool e outras drogas e os comportamentos de risco associados.

O método de pesquisa:

Técnicas de inquérito de portal foram utilizadas para quantificar o consumo de álcool e outras drogas de frequentadores das baladas, na entrada e saída do evento, além de episódios de violência e comportamentos de risco antes, durante e após a balada.

Uma equipe de pesquisa de 8 pessoas uniformizadas posicionou-se próximo à fila de entrada da balada. Estes entrevistadores abordavam cerca de 75 “baladeiros” ao longo da noite. Após explicação dos procedimentos éticos da pesquisa e segurança de anonimato e sigilo, o entrevistador realizava uma entrevista de 5 a 10 minutos e depois solicitava um teste de bafômetro. Cada entrevistado recebeu uma pulseira de eventos para que pudesse ser identificado na saída da balada. Após a entrevista, foi aplicado um novo teste do bafômetro. Destaca-se que a participação foi totalmente voluntária e nenhum entrevistado foi coagido a participar.

O questionário abordou informações sobre dados sociodemográficos do entrevistado (como idade, profissão, escolaridade, renda), a prática do esquenta pré-balada (local, tipo de bebida consumida, frequência, gastos, etc), o padrão convencional de uso de álcool (durante a vida e recente) e a experimentação de outras drogas na vida. Na saída foi perguntado sobre a quantidade de álcool consumida dentro da balada e quanto foi gasto, além do bafômetro. No dia posterior à balada o entrevistado recebia em seu email um link para que respondesse a questões sobre o pós-balada e em seguida poderia ser submetido a uma tela de intervenção sobre normas sociais no consumo de álcool. Enquanto os entrevistadores estavam do lado de fora da balada, dois pesquisadores estavam dentro da balada realizando medidas ambientais que permitiram identificação de potenciais riscos para os alcoolizados ou que potencializassem os riscos da intoxicação alcoólica (temperatura, número de mesas, iluminação, pressão sonora, entre outros).

Neste estudo, através da avaliação de fatores ambientais e individuais dos frequentadores destes estabelecimentos, avaliamos o processo que desencadeia o consumo exagerado do álcool e suas consequências, focando especialmente numa forma de conciliar a diversão do baladeiro, a expectativa de retorno financeiro do dono do estabelecimento e a saúde pública paulista, especialmente no âmbito do beber e dirigir, do sexo desprotegido e dos episódios de violência. Todo o sigilo e anonimato dos participantes foi e é garantido. Nenhum dado individual será divulgado à mídia ou às autoridades.

Conheça o projeto em: http://www.baladacomciencia.com.br/