O que leva crianças e adolescentes ao uso de drogas, lícitas ou não, e como os pais devem agir?
* Por Simone Greco
A Dra. Sandra Scivoletto é professora de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Departamento de Psiquiatria da USP, chefe do Ambulatório de Adolescentes do Instituto de Psiquiatria do HC e assessora da Secretaria Nacional Antidroga.
Em entrevista concedida à Simone Greco, para o Jornal Labora, falou sobre a importância da família, em especial, do papel dos pais, na prevenção ao uso de drogas e na qualidade de vida dos filhos.
Segundo a Dra. Sandra, a pré-adolescência e a própria adolescência são fases de experimentação de vários comportamentos. É o período em que a “ex-criança” começa a assumir o controle de sua vida social. Escolhe para onde vai e com quem, adquirindo, inclusive, maior autonomia para se deslocar fisicamente. Desse modo, quanto mais acesso ele tiver a certas situações, como, por exemplo, frequentar com amigos bares ou festas que ofereçam bebidas alcoólicas, e quanto maior a aprovação desse programa pelo grupo, mais facilmente ocorrerá a experimentação de drogas lícitas, como as bebidas alcoólicas e o cigarro, e, por outro lado, drogas ilícitas. Somando-se o fácil acesso, o baixo custo e a maior aceitação do uso de algumas substâncias, como a maconha, atualmente é muito fácil para um jovem satisfazer sua curiosidade.
As influências externas, dentre elas, a companhia em que os adolescentes estão, têm um papel importante no primeiro contato e experimentação de álcool, cigarro e drogas ilícitas. No entanto, na passagem da experimentação para o uso regular, e na manutenção do uso, estão envolvidos outros fatores mais relacionados com características internas do adolescente, tais como, insegurança ou sintomas depressivos. Em outras palavras, um adolescente pode experimentar uma substância por “pressão da turma”, mas se estiver seguro, se achar que a droga não lhe trará nenhum benefício, ele se afastará dessa turma e irá em busca de outra.
O adolescente experimenta diversos comportamentos e atitudes na busca de uma identidade própria, diferente da de seus pais em alguns aspectos, e pelo desejo de ser visto como um indivíduo autônomo, adulto. Assim, ele se baseia, questiona, adapta e adota os modelos de comportamento adulto de que dispõe.
Nesse contexto, os pais devem refletir muito sobre que modelo que estão oferecendo para seus filhos. Se esperam que o filho tenha uma vida saudável, é fundamental que adotem essa postura. Para a Dra. Sandra, o exemplo não é uma boa forma de ensinar; muitas vezes, é a única.
A maioria dos adolescentes interromperá o consumo de drogas conforme for assumindo outros papéis na vida adulta (o consumo de tabaco constitui exceção, tendendo a permanecer na idade adulta). No entanto, não se sabe, previamente, quais adolescentes têm maior predisposição para passar do uso experimental para a dependência. Pesquisas mostram que fatores de risco podem influenciar nessa questão: uso de drogas pelos pais e amigos; desempenho escolar insatisfatório; relacionamento deficitário com os pais; baixa autoestima; sintomas depressivos; ausência de regras claras; baixo senso de responsabilidade; pouca religiosidade; uso precoce de álcool. Portanto, diversos fatores estão associados ao aumento da probabilidade de consumo de drogas entre os adolescentes.
De qualquer modo, antes de focar especificamente na questão do uso ou não de drogas, é mais importante olhar para o adolescente. É preciso avaliar como o filho está, de forma geral, em termos de realização, autoestima e relacionamentos sociais, entre outros. Os jovens precisam sentir que eles são bons em alguma atividade, sendo que esse destaque representará sua identidade e sua função dentro do grupo. O adolescente que não consegue se destacar nos esportes, estudos, relacionamentos sociais, dentre outros, pode buscar nas drogas a sua identificação. Em suma, os pais devem se preocupar com o desenvolvimento global do filho. O ideal é que identifiquem eventuais problemas antes que o uso de drogas se torne o principal problema.
O papel da família é fundamental na prevenção do uso de drogas. É ela quem forma o futuro adolescente. Crianças que crescem em um ambiente com regras claras geralmente são mais seguras. À medida que se defrontam com limites, aprendem a lidar com as frustrações, desenvolvendo recursos próprios para superá-las. Sem regras claras, a criança busca limites adotando um comportamento desafiador com os pais, como se provocasse a imposição de limites.
Posteriormente, já adolescente, repetirá o comportamento desafiador fora de casa. Na tentativa de descobrir as regras do mundo, irá também testar os limites, deparando-se com frustrações. Como não desenvolveu mecanismos para lidar com elas, pode recorrer às drogas, que surgem como “solução mágica”: o jovem as consome e todos os sentimentos ruins desaparecem por alguns instantes, sem necessidade de esforços maiores.
Além de ter de ocupar-se com a formação de jovens seguros, a família precisará, na fase da adolescência, manter-se próxima do filho. A proximidade e o bom relacionamento entre pais e filhos são fatores protetores com relação ao uso de drogas e também para outros problemas que podem surgir na adolescência e idade adulta. Os pais devem procurar conhecer os amigos de seus filhos, ter mais contato com eles.
Acompanhar o crescimento dos filhos, seus interesses, seus medos é o principal fator protetor para problemas futuros.
Fonte: http://www.revistapaisatentos.com.br/escola-bosque/artigo/o-papel-dos-pais-na-prevencao-19