Brasil ocupa o 2º lugar de maior consumidor de Ritalina do mundo

Se Einstein fosse hoje criança muito provavelmente seria diagnosticado com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA).

Na escola, a sua criatividade e pouco interesse pelas matérias dadas nas aulas faziam com que tivesse dificuldade em concentrar-se e ficasse perdido nos seus próprios pensamentos. Era questionador, agitado… Naturalmente, como a matéria não lhe interessava também tinha dificuldade em memorizar. Estariam reunidas as principais condições para que lhe fosse prescrita Ritalina.

A busca por soluções fáceis, o diagnóstico equivocado e a incompreensão dos pais acerca da agitação natural das crianças elevou o Brasil ao posto de segundo maior consumidor de Ritalina do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos.
O dado, do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos, é alarmante. Ritalina é o nome comercial do metilfenidato, medicação que promete tratar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, ou TDAH, e os principais consumidores da droga tarja preta são crianças e adolescentes.

Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de 8% a 12% das crianças no mundo foram diagnosticadas com TDAH, e a suspeita dos pais de que os filhos tenham o transtorno é o principal motivo que os leva aos médicos. Em 2010 foram vendidas 2,1 milhões de caixas de metilfenidato. Em 2013, foram 2,6 milhões.

Nem todas as crianças são gênios, é certo, mas atualmente muitas têm as mesmas características cognitivas e comportamentais de Einstein e são medicadas por esse motivo. Dão trabalho, questionam, são agitadas, viajam nos pensamentos, consideram a escola aborrecida, logo, não se concentram nem memorizam.

Se apesar destas características, Einstein se tornou o mais famoso e brilhante cientista da história, porque é que cada vez mais se medicam crianças com Ritalina para que “obedeçam aos padrões” estipulados pelo ensino, pelos médicos, pelos pais e pela sociedade?

As crianças desta geração, sujeitas a tantos estímulos, não conseguem aprender da mesma forma que as gerações anteriores. Passam várias horas por dia dentro de uma sala de aula, têm muitas atividades extracurriculares, tablets, celulares e televisão. São crianças que necessitam de um ensino diferente, que as cative, que seja mais prático, mais interativo, mais respeitador dos seus interesses e motivações.

As substâncias em questão são o metilfenidato (Ritalina, Rubifen e Concerta) e a atomoxetina (Strattera), estimulantes do sistema nervoso central de forma semelhante às anfetaminas, cujos efeitos não são suficientemente conhecidos em crianças até aos 6 anos de idade.

Estas drogas aumentam de fato e a curto prazo a concentração, no entanto não há evidência científica que demonstre a existência de benefícios a longo prazo do

uso destes medicamentos, quer na capacidade de aprendizagem, quer no comportamento. Muitos pais verificam, inclusive, que quando deixam de dar a medicação aos filhos o seu comportamento demonstra ser pior do que o verificado antes de se ter iniciado a terapêutica.

Além disso, são conhecidos vários efeitos secundários sérios da medicação, (que constam na Bula), tais como perda de apetite, ataques de pânico, sintomas psicóticos ou maníacos, hemorragia cerebral, comportamentos agressivos, tiques motores e verbais, inchaço mamário e ereções involuntárias prolongadas e dolorosas em rapazes (necessitando por vezes de intervenção cirúrgica), alterações cardíacas e atrasos de crescimento.

Se há médicos que justificam a medicação com base num suposto defeito cerebral, detectado nos exames de imagem e diagnóstico destas crianças em alguns estudos, há igualmente médicos que condenam o uso destes medicamentos e afirmam que estes resultados são enganadores, pois uma vez que cérebro e comportamento estão interligados é natural encontrar alterações nos exames de imagem cerebral. O cérebro de crianças deprimidas também apresenta alterações o que não significa que tenham um defeito cerebral.

Vários estudos demonstram que intervenções não farmacológicas, tais como terapia cognitivo comportamental, são mais eficazes a longo prazo e não apresentam efeitos secundários.

Os problemas de comportamento e de aprendizagem podem ter variadas causas: ambiente familiar disfuncional, métodos de ensino pouco estimulantes, baixa inteligência emocional, falta de apoio da família, entre muitas outras. Todas estas questões, que só uma avaliação cuidada poderá compreender, devem ser trabalhadas, olhando-se para a criança como um ser único que necessita ser ajudada e compreendida.

É necessário entender que nenhum medicamento será capaz de resolver a complexidade que é o processo de comportamento, de atenção e aprendizagem das crianças. Estes processos necessitam de motivação, desejos e afetos.

Pensar que problemas comportamentais e de aprendizagem poderão ser tratados com comprimidos é deixar de questionar os métodos de ensino, a competição que a sociedade impõe e demite-nos a todos de procurar soluções mais seguras e mais respeitadoras da individualidade da criança.

Felizmente, Einstein nasceu numa época em que ainda não se medicavam crianças com Ritalina. As suas dificuldades foram ultrapassadas sem drogas e ganhamos um gênio…

https://www.casa-indigo.com/artigos/educacao/e-se-einstein-tivesse-tomado-ritalina/
http://www.antroposofy.com.br/forum/ritalina-uma-perigosa-facilidade-para-os-pais/