A fase da adolescência é sempre marcada por descobrimentos e novas experiências. É também uma fase perigosa para a iniciação no uso de substâncias como álcool, cigarro e outras drogas, às vezes por pressão social, influência de amigos, ou até pela exposição de propagandas e o uso nos cinemas e televisão.
Quase toda propaganda da indústria tabagista dirige-se direta ou indiretamente a este segmento de mercado. Em 90% dos casos, o início do consumo de cigarros ocorre na adolescência, dos 13 aos 15 anos. Os jovens são mais antenados e tornam-se mais vulneráveis a modismos e novidades como o narguilé e cigarros eletrônicos, portas de entrada para o vício no cigarro comum. Por utilizar mecanismos de filtragem, o consumo de narguilé é visto como menos nocivo à saúde. Mas, na verdade, seu uso é mais prejudicial do que o de cigarro. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma sessão dura, em média, de 20 a 80 minutos, o que corresponde à exposição a todos os componentes tóxicos presentes na fumaça de 100 cigarros. E os riscos são os mesmos associados ao fumo regular, que incluem as doenças cardiovasculares, respiratórias e alguns tipos de câncer. O uso coletivo ainda aumenta a exposição a doenças como herpes, hepatite C e tuberculose. Com o cigarro eletrônico, a história não é diferente.
“A maior parte dos fumantes adquire o hábito de fumar e a dependência à nicotina na adolescência, pois a curiosidade inicial na experimentação de cigarros é um dos fatores determinantes da prevalência do tabagismo na vida adulta”, explica a preceptora do Programa de Residência Médica de Psiquiatria do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Maria Célia Vitor De Souza Brangioni. “Daqueles que começam a fumar na adolescência, 50% morrem prematuramente na meia-idade, perdendo cerca de 20 a 25 anos de expectativa de vida em comparação aos não fumantes. O risco é maior naqueles que começam a fumar regularmente na adolescência”, destaca Maria Célia, lembrando que a iniciação precoce do cigarro pode levar ao uso de outras substâncias, como álcool e drogas ilícitas.
A pior notícia, entretanto, vem agora: estima-se que, no mínimo, um terço das pessoas que chegam a fumar um cigarro venham a se tornar dependentes. Embora o primeiro uso de um cigarro seja tipicamente marcado por efeitos desagradáveis como tosse e náusea, estes rapidamente diminuem. Isto permite novas tentativas. Segue-se um período de experimentação em que muitos jovens parecem aprender a regular os efeitos do cigarro (aprendem a tragar). A tolerância continua a aumentar, permitindo que se estabeleça um padrão típico de consumo diário.
Redução
Diante de todos os riscos e com os esforços de conscientização, o número de fumantes tem diminuído no Brasil. Segundo dados do VIGITEL/2016, o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 10,2%, sendo 12,7 % entre homens e 8,0 % entre mulheres. “O número de fumantes no País diminuiu nos últimos 25 anos e a redução coloca o Brasil entre os campeões de quedas do volume de pessoas que consomem tabaco”, destaca Maria Célia. Um levantamento que ouviu 75 mil adolescentes de 1.251 escolas públicas e privadas, feito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pelo Ministério da Saúde em 2016, sugere que 18,5% dos adolescentes brasileiros entre 12 e 17 anos já experimentaram cigarro. Dos jovens, 6% são fumantes, ou seja, saíram da fase de experimentação. Apesar do estudo indicar um índice alto de contato com o cigarro, a tendência é de queda desse percentual quando há comparação dos dados com outros estudos anteriores.
O tabagismo é reconhecido pela OMS como uma doença crônica, epidêmica, sendo a maior causa isolada evitável de adoecimento e morte precoce em todo o mundo. Está inserida dentro do grupo dos transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas na Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10). É um importante fator de risco isolado para cerca de 50 doenças, muitas delas graves e fatais, como o câncer e as doenças cardiovasculares. Mais de 5 milhões de mortes são resultantes do tabagismo no mundo, por ano; 200 mil mortes no Brasil, por ano. Além dos prejudiciais efeitos à saúde dos fumantes, o tabagismo atinge também os não fumantes que convivem com fumantes em ambientes fechados, os denominados fumantes passivos. “Prevenir o início do uso de cigarro e ofertar tratamento para os fumantes, além de proteger as pessoas do fumo passivo, são ações necessárias para combater esta grave e complexa patologia”, completa Maria Célia.
Fonte: http://www.obomdanoticia.com.br/saude-e-beleza/a-maioria-dos-fumantes-adquire-o-habito-na-adolescencia/7768